Para muitas pessoas, acredito que a situação da pandemia tenha causado mudanças de hábitos, padrões no dia a dia e dentro de si mesmas. Diante do caos, é muito comum termos medo e querermos nos agarrar a algo para sentir segurança, seja num relacionamento ou num emprego. E quando, no entanto, esse caos demora mais do que o esperado? E quando o caos parece ser a nova realidade? É porque a entrega deve acontecer e dela nasce a reinvenção do que pensávamos ser.
Dentro da nossa vida, creio que acontecem pequenas mortes e esses choques de realidade, muitas vezes encarados com pesar e tristeza, são finais de ciclos e, depois do fim, sempre há um início. É só depois da tempestade que novos dias podem surgir com mais brilho e cor. E durante o caos? Fomos acostumados a crer no fato de que o que está organizado é bonito e bom e o que está bagunçado é feio e ruim, porém existe, sim, beleza no caos, porque ele significa mudança e, enquanto estamos mudando, é sinal de que estamos vivos.
Há muito tempo, li uma passagem em um livro que me marcou profundamente. Uma pessoa reclamava que passava por muitos testes na vida e, então, outra respondia que isso era bom, pois significava que a vida considerava aquela pessoa passível de melhorar e pior seria se nenhum caos acontecesse. Isso significaria, então, que ela não tinha jeito e que pertenceria ao ferro velho das almas.
Ler isso me fez olhar para os desafios da minha vida por uma nova ótica, pois antes de eu reclamar sobre as situações que não consigo mudar, posso pensar no que ela vai me trazer de lição. O caos nos dá o presente de aprender que nosso propósito é transformar o nosso mundo interior e, consequentemente, o exterior, além de nos dar a oportunidade de expandirmos o que somos.
Confiar no caos criativo é vivenciar a manifestação por meio da reinvenção do nosso ser, que antes queria buscar segurança em tudo ao redor, mas, durante o caos, aprende que a vida é um rascunho, e não um roteiro a ser seguido. É só quando a vida nos vira do avesso que podemos enxergar novas possibilidades que sempre habitaram em nosso interior.
Você também pode gostar
Por já experienciarmos um desafio coletivamente, quer dizer que somos passíveis de sermos moldados pelo fogo da vida em vez de irmos para o ferro velho das almas. E isso é muito! Mudança é presente, é movimento. E movimento é o sinal de que estamos vivos! É como escreveu o poeta português Fernando Pessoa no seguinte verso de um poema do livro “Poesia Completa de Alberto Caeiro” (p. 103): “Ser real é a cousa mais nobre do mundo.”