Doutrina Espírita Espiritualidade

Religiões e salvação

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Escrito por Antônio Navarro

O sentido religioso na natureza humana tem o seu início por volta de quarenta mil anos atrás. O Homem primitivo, ainda caçador e coletor, e que mora em cavernas e abrigos naturais, percebendo os ciclos da natureza, tais como noite e dia, chuva e seca, frio e calor, busca integrar-se às forças e condições naturais em que está inserido.

Ele se sente parte do todo e busca, induzido pelo instinto de sobrevivência, adaptar-se ao modus operandi da natureza. Esse esforço por adaptar-se é o primeiro estágio do sentimento religioso, e é denominado de Religião de Integração. Há uma grande “obra” na qual ele está inserido e, por isso, precisa integrar-se a ela.

Passam os milênios e a inteligência se desenvolve e, portador de grande ignorância, o homem tenta compreender quais são as fontes dos mais diversos fenômenos naturais que experimenta, incluindo a morte. Pensa, então, que todos os fenômenos são frutos da vontade e ação de personalidades invisíveis, que de acordo com seus gostos os aplicam sobre o mundo palpável.

Surge a Mitologia, como interpretação das potências invisíveis e, em consequência, os seus mais variados deuses e deusas, com uma hierarquia correspondente. Nesse ínterim, os seres humanos começaram a sepultar os seus mortos, paramentando o cadáver e promovendo cerimoniais dos mais diversos tipos, deixando claro o seu entendimento de que a vida continua depois da morte.

Em alguns locais a forma do sepultamento sugere o renascimento, seja no mesmo corpo, daí as mumificações, seja em outro corpo, através da reencarnação. O raciocínio é dedutivo e simples: existem potências que do invisível dirigem os acontecimentos no mundo físico. Os acontecimentos bons em meio à vida dificílima que o homem experimenta são produzidos por deuses bons, e as coisas ruins que lhe acontecem são advindos dos deuses maus.

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Nasce o segundo estágio do sentimento religioso: o da Servidão. É preciso servir a esses deuses, tanto bons quanto maus, para garantir coisas boas e evitar coisas ruins. Em decorrência dessa percepção nascem as oferendas e as promessas, que estão incrustadas até hoje em nossa forma de se relacionar com as divindades.

Continuando o desenvolvimento do entendimento religioso, já com a certeza de que um dia se morre com a consequente transferência de vida para o lado invisível, e que nesse invisível “moram” os deuses, e estes, por serem divididos em dois grupos, os bons e os maus, “moram” em lugares distintos, e por não se misturarem, o questionamento é inevitável: para junto de qual grupo se vai?

A esses locais, onde se reúnem os bons e os maus, foram dados os nomes “Céu” e “Inferno”, com suas características sempre definidas pelo Homem primitivo. Algo no Homem lhe dá, no íntimo, a perspectiva real de que irá para o Inferno, já que ele ainda não é bom, pois é violento, maltrata, rouba, prejudica, mata, incluindo os que lhe são confiados naturalmente, e é preciso achar uma solução para sua destinação.

Nasce o terceiro estágio do desenvolvimento religioso: o da Salvação. É preciso descobrir, ou inventar, um mecanismo que o salve do Inferno, e as propostas são simplórias: se acreditar em tal deus, ou mesmo no Deus de Moisés, será salvo; se acreditar e servir a esse ou aquele representante da divindade, qualquer que seja ela, será salvo; se surgir o arrependimento, mesmo na última hora, será salvo; se pagar por cerimônias religiosas em que se encomenda sua alma, será salvo; se houver o engajamento nessa ou naquela religião específica, será salvo; se aceitar o Senhor Jesus como seu Salvador, será salvo; se permanecer por um período em tal região purgatória e se arrepender, será salvo; e por aí vai.

É o Homem primitivo, que não conhece nem mesmo o mundo físico em que habita, que está a definir os mecanismos da invisibilidade e da Divindade Maior. Onde está, então, a solução para que o ser humano experimente uma condição de Céu depois de morrer? No conhecimento da realidade na qual estamos inseridos e no cumprimento de determinadas condições naturais.

A esse respeito, a mensagem de Nosso Senhor Jesus Cristo é incomparável, porque se estabelece nas mais sublimes moral e racionalidade. O Reino dos Céus está dentro de vós, disse Jesus. É, portanto, uma questão de consciência. Mais culpa, mais tormento íntimo; mais acerto, mais tranquilidade de espírito.

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Há muito mais em Jesus, e mais ainda na Doutrina Espírita, o Consolador que Jesus anunciou que enviaria para alcançarmos a “salvação”, porque são os que habitam na invisibilidade que nos dão as informações de como funciona o mecanismo da vida nos dois planos que se entrelaçam. Bastará o estudo sério, despido de qualquer preconceito, e a prática constante do bem ao próximo, para que conheçamos a verdade que liberta, como disse o próprio Mestre Jesus.

Pensemos nisso.

Sobre o autor

Antônio Navarro

Orador espírita e Membro da Diretoria do Centro Espírita Francisco Cândido Xavier em São José do Rio Preto - SP.

Articulista espírita dos seguintes meios de comunicação:

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