Convivendo

Resenha do livro ‘‘Caminhos para a cultura do Bem Viver’’, de Ailton Krenak

Capa do livro "Caminhos para a cultura do Bem Viver".
Divulgação / Caminhos para a cultura do Bem Viver
Escrito por Vanderlei Tenório

Ailton Krenak nasceu em 1953. Ativista do movimento socioambiental e de defesa dos direitos indígenas, organizou a Aliança dos Povos da Floresta, que reúne comunidades ribeirinhas e indígenas na Amazônia. É comendador da Ordem de Mérito Cultural da Presidência da República e doutor honoris causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em Minas Gerais. Entre suas ocupações estão a de ambientalista, líder indígena, produtor gráfico, jornalista, poeta e escritor. Entre seus livros, destacam-se: ‘‘O lugar onde a terra descansa’’ (2000), ‘‘Ideias para adiar o fim do mundo’’ (2019), ‘‘A vida não é útil’’ (2020) e ‘‘O amanhã não está à venda’’ (2020).

O livro ‘‘Caminhos para a cultura do Bem Viver’’ deriva de um texto elaborado a partir de um live e de conversas de preparação com Ailton Krenak, realizadas na Semana do Bem Viver da Escola Parque do Rio de Janeiro, no dia 17 de junho de 2020, com o título ‘‘O Bem Viver e o sentido da natureza’’, mediada por Bruno Maia e Nina Arouca. Ailton Krenak foi convidado pela Escola Parque para falar sobre o Bem Viver (Buen Vivir, em espanhol, ou Sumak Kawsai, em quéchua), por ser um dos grandes narradores indígenas da atualidade, reconhecido não só no Brasil, mas também internacionalmente.

O Bem Viver é uma das referências do Projeto Educar para a Sustentabilidade da Escola e o encontro virtual contou com a participação de um público diverso, entre eles estudantes do Ensino Fundamental, do Ensino Médio, universitários, professores e do público em geral. As perguntas da live foram feitas por Nina Arouca, Pedro Trindade, Antonia Alvim, Catarina Dutra, Thiago Vedova, Eduardo Russel, Nina Bocchese, Onaldo Brancante e Idjahure Kadiwel.

A obra está apresentada em dez capítulos e o formato que introduz cada capítulo é particularmente interessante. Os capítulos trazem uma linguagem clara e fácil de ser lida. O autor consegue penetrar no âmago de situações extremadas e airosas, persuadindo o leitor continuamente a uma reflexão por meio de um diálogo direto e pessoal, que instiga quem está lendo a aprofundar seu olhar acerca da ideia da profunda desconexão do ser humano com o organismo Terra (Gaia, a Mãe-terra, elemento primordial e latente de uma potencialidade geradora imensa), provocando reflexões sobre a centralidade da espécie humana e a forma como estamos nos relacionando com o planeta. A fala de Krenak é atual, necessária e tende a permanecer em voga, pois segue sendo urgente e ecoante. É um grito de alerta.

O autor explica que o organismo de Gaia está com febre porque nós, os humanos, somos os únicos que temos a capacidade de incidir sobre esse organismo de maneira desordenada. E estamos ameaçando outras vidas, outras existências, causando uma febre neste organismo. É muito didático. Não é uma teoria complicada. Ele frisa que a vida é um organismo. A Terra é uma materialidade dessa vida. Nosso corpo, assim como o de uma formiga ou de uma borboleta, é a materialidade da vida. A vida passa na gente e vai para outro lugar. Ela não fica parada em lugar algum. Esse sonho da terra é essa vida. A vida é maravilhosa e não tem fim. Nesse aspecto, a questão do sentido da vida humana e sua conexão com a natureza não se relaciona somente com um indivíduo e sua facticidade, mas também com a vida de todos os homens e seres vivos, pois, na adoção de qualquer concepção apressada de liberdade, não compromete o indivíduo apenas, mas a humanidade e a vida de todos os seres vivos como um todo.

Borboleta marrom no dedo de pessoa branca.
 Robin Mathlener / Unsplash

Krenak, no primeiro capítulo, ‘‘Conexão’’, convida-nos a experimentar alguma mudança na nossa forma de contato. Essa mudança seria a busca da conexão com algum elemento da natureza. O objetivo dessa experiência é o que ele chamou de fricção de vida: não viveremos em câmera lenta, porque a intenção é termos um “start” e vivenciarmos de fato a intensidade dessa nova conexão. Krenak ressalta que isso permite fazermos uma experiência sensorial, que é exatamente a de transpor essa distância. Enfim, a vida, seu sentido e seu valor tomam o seu significado a partir de uma nova conexão, conexão que concede ao homem uma autêntica orientação do seu viver. E, desse modo, receptivo, o homem usa sua liberdade para construir sua existência no mundo e se projetar aos fins transcendentes que estão para além do seu mundo e que superam até mesmo o aparente fracasso da morte, como supõe Sartre (1905-1980), em ‘‘O Ser e o nada’’ (1997). O objetivo central dessa reconexão é fazermos uma experiência de uma conexão que não é só virtual. Há um convite para que façamos uma conexão sensorial, em outros termos, com o propósito desse nosso encontro, porque assim ele fica mais potente e mais animador para todos nós.

No segundo capítulo, ‘‘A origem do Bem Viver’’, Krenak nos apresenta esse belo conceito. Que como nos lembra o teólogo alemão Paulo Suess, não é fácil expressar, com palavras, uma noção tão ampla e complexa como o Bem Viver, que abrange muitas dimensões e significados. Pode-se dizer que ele expressa, ao mesmo tempo, memória e horizonte — por um lado, memória pré-colonial e tradicional do mundo andino — e, por outro lado, protesto e luta contra os excessos do capitalismo agroindustrial globalizado. No capítulo, Krenak cita o povo quéchua. Os povos quéchuas compreendem seu passado como um mundo imerso no Bem Viver, que, hoje, seria a convivência harmoniosa entre cosmo, natureza e humanidade. Saídas políticas assumidas no presente sustentam-se, muitas vezes, na memória de um tempo bom, perdido e idealizado, ao mesmo tempo mítico e histórico. Esse tempo passado pode ser — e é —, muitas vezes, o motor para transformações da realidade presente.

No terceiro capítulo, ‘‘O que não é o Bem Viver’’, Krenak alerta que o Bem Viver pode ser a difícil experiência de manter um equilíbrio entre o que nós podemos obter da vida, da natureza e o que nós podemos devolver. É um equilíbrio, um balanço muito sensível e não é alguma coisa que a gente acessa por uma decisão pessoal. Quando estamos habitando um Planeta disputado de maneira desigual, e no contexto aqui da América do Sul, do país em que vivemos, que é o Brasil, que tem uma história profundamente marcada pela desigualdade, simplesmente fazer um exercício pessoal de dizer que vai alcançar o estado de Buen Vivir é muito parecido com o debate sobre sustentabilidade, sobre a ideia de desenvolvimento sustentável.

Sobre a questão. Iara Bonin, em artigo publicado no site do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), comenta que os princípios do Bem Viver nos levam a cultivar relações de reciprocidade, respeito e valorização de todas as formas de vida. Encontrar alternativas nesse sistema opressor e construir relações solidárias é o desafio colocado para todos que acreditam em um mundo diferente. No Brasil, temos o privilégio de conviver com uma imensa pluralidade cultural, que nos possibilita também aprender cotidianamente que a beleza da vida está na diferença, na variedade, na possibilidade do novo, não na adesão, sem crítica, a um padrão monolítico, no qual não há lugar para todos.

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Nos nossos tempos egonarcísicos, estamos perdendo as perspectivas de construção de uma convivência humana irmanada. Mario Sergio Cortella, em ‘‘Não nascemos prontos – provocações filosóficas” (2015), aponta que em nosso cotidiano ganham cada vez mais destaque alguns ditados populares como ‘‘cada um por si e Deus por todos’’ ou ‘‘cada macaco no seu galho’’ ou ainda ‘‘quem pariu Mateus que o embale’’. Vive-se, além de tudo, uma sociedade consumida, na qual a mínima possibilidade de sentido fugaz encontra-se na posse, mesmo que circunstancial, de objetos que são anunciados como sendo os portadores do segredo da felicidade. Crianças bem pequenas perderam a capacidade de brincar sozinhas, com um maravilhoso universo imaginativo e abstrato, no qual nada material precisava adentrar; agora, elas têm necessidades inseridas nelas pela nossa inteligência adulta e veiculadas por uma mídia que nem sempre se preocupa com o papel formador que desempenha. Em contraponto com esse excerto, cabe citar mais um trecho do artigo publicado no site do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) por Iara Bani. Para ela, um dos grandes ensinamentos que os povos indígenas têm nos transmitido, desde tempos imemoriais, é o de saber conviver com a Mãe Terra, dedicando-lhe respeito, amor e profundo zelo.

Na visão desses povos, a terra é mais do que simplesmente o lugar onde se vive. Ela é sagrada, é capaz de fazer germinar e de acolher plantas, animais e uma infinidade de seres vivos, além dos humanos, compondo ambientes onde a vida frutifica em todo o seu esplendor. Assim sendo, a terra está na base do Bem Viver. No entanto nem todas as comunidades indígenas brasileiras podem usufruir o direito de viver em seus territórios tradicionais, ou seja, estão sem possibilidade de vivenciar a condição primordial do Bem Viver. Mas será que vale a máxima ‘‘deixa a vida me levar, vida leva eu’’? Bom, claro que não. Nessa visão, o Bem Viver surge como uma alternativa extremamente necessária para a mudança de nossa visão de vida e nossa conexão com a Terra.

No quinto capítulo, ‘‘Ideia de Natureza’’, Krenak ressalta que é muito diferente o fundamento de cada uma dessas perspectivas de Bem Viver e bem-estar. O bem-estar está apoiado em uma ideia de que a natureza está aqui para nós a consumirmos. Mesmo que a gente faça de maneira consciente e cuidadosa, tem um fundamento, uma ontologia que sugere que nós, humanos, somos separados dessa entidade, que é a natureza, e que a gente pode incidir sobre ela e tirar pedaços dela. Tirar pedaços dela… como? A gente tira pedaços dela removendo as montanhas. A gente tira pedaços dela fazendo uso da água, do solo, dessa atividade antiga dos humanos, que é a agricultura, de maneira exaustiva e predatória. Mesmo quando utilizamos a ciência e a tecnologia, o propósito é aumentar a capacidade de exaurir esse organismo. Nós achamos que podemos consumir a Terra. Essa é a ideia do bem-estar. Para o bem-estar humano, a gente pode consumir a Terra.

O consumo desenfreado pela sociedade leva a uma exploração dos recursos naturais em níveis cada vez mais altos, o que vem exercendo pressão crescente sobre os sistemas ecológicos dos quais a humanidade e as demais formas de vida dependem. Tais atitudes rompem um princípio pautado por Krenak, o de que não devemos incidir sobre o corpo da Terra e devemos estar equalizados com o corpo da Terra: viver com inteligência nesse organismo que também é inteligente. Hoje, como nos lembra Pena, há a devastação das florestas e o esgotamento até mesmo dos recursos renováveis, tais como a água própria para o consumo, as florestas e o solo. Além disso, os recursos não renováveis vão contando os dias para a escassez completa, tais como as reservas de petróleo e de diversos minérios utilizados para a fabricação dos mais diferentes produtos utilizados pela sociedade.

Pessoa branca abraçando árvore.
Trent Haaland / Unsplash

Um dos aspectos mais criticados no que se refere à sociedade de consumo é a obsolescência programada — ou obsolescência planejada —, que consiste na produção de mercadorias previamente elaboradas para serem rapidamente descartadas, fazendo com que o consumidor compre um novo produto em breve. Assim, aumenta-se o consumo, mas também aumenta a demanda por recursos naturais, maximizando a produção de lixo, elevando ainda mais a problemática ambiental decorrente desse processo. Para Pena, além da adoção de políticas sociais de controle ao consumismo exagerado, é preciso encontrar meios econômicos alternativos ao desenvolvimento pautado no consumo. Não obstante, faz-se necessária também a promoção de políticas de reciclagem, além da reutilização ou do reaproveitamento dos produtos não mais utilizados, contendo, assim, a geração de lixo e a demanda desenfreada por matérias-primas. Essas medidas são vitais para a eficácia do Bem Viver, atreladas à construção de uma boa reconexão com a natureza.

No sexto capítulo, ‘‘Terra como organismo vivo’’, Krenak expõe quem é Gaia. De acordo com ele, a Terra pode nos deixar para trás e seguir o seu caminho. Gaia é esse organismo vivo, inteligente e que não vai ficar subordinado a uma lógica antropocêntrica. Ele dispensa a gente. Essa compreensão parece uma ideia mágica, romântica, mas muitos cientistas consideram a Teoria de Gaia [a ideia de que a Terra é um organismo vivo] real. Inclusive, os eventos pelo qual estamos passando agora são indicativos de que esse organismo está reagindo. Estamos experienciando a febre do planeta. Krenak conta que, por causa disso. ele sente alegria em habitar esse organismo fantástico que é a Terra, Gaia.

Ainda segundo ele, para muitas culturas, muitas tradições tiveram origem aqui nesse lugar, que é esse Planeta. Para algumas outras narrativas, existe a possibilidade de esse Planeta mesmo, esse com quem compartilhamos a vida, ser um fenômeno tão fantástico, constituído talvez há bilhões de anos por outras estrelas e transformações que aconteceram em outras galáxias. Então isso é maravilhoso. A gente poder fazer parte dessa história que é do cosmos, do Universo. É por isso que o povo indígena tem cosmovisão. Porém, como declarou ele em uma entrevista a Anna Ortega, do Jornal da Universidade Federal do Rio Grande do Sul: ‘‘Nós estamos desorganizando a vida aqui no planeta, e as consequências disso podem afetar a ideia de um futuro comum – no sentido de a gente não ter futuro aqui junto aos outros seres. Os humanos serem finalmente incluídos na lista de espécies em extinção’’.

Para finalizar, cabe comentar o oitavo capítulo, ‘‘Pandemia’’. Neste, Krenak frisa que nós temos que entender que esse organismo maravilhoso da Terra não é bobo. Ele é inteligente e tem uma potência fantástica. A potência dele é incalculável. Então esse organismo vivo, inteligente e ofendido com a nossa grosseria pode apagar a gente, e nós não faremos falta nenhuma. Como os bilhões de outros seres que habitam o Planeta, nós somos um. Se tirar a gente, nós já extinguimos uma lista de espécies, vocês sabem disso. Sobre a questão, em entrevista concedida ao Jornal da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ele declarou o seguinte: ‘‘O evento da pandemia foi visto, principalmente, como “terrível ameaça contra o humano”. Claro, o humano estava tão confortável no lugar de dominante que um vírus desestabilizou essa confiança tétrica. Quebrou essa confiança’’.

Mulher branca e ruiva segurando máscara no rosto.
Pille R. Priske / Unsplash

Outra fala interessante declarada na entrevista é a seguinte: ‘‘Esse discurso bélico que a busca da vacina restaurou é como se tivéssemos uma declaração de que o inimigo está dentro de casa. Ora, não tem fora de casa. No organismo da Terra, a biosfera do planeta não tem externalidade. As empresas costumam deixar fora de suas contabilidades os danos que elas causam’’. A pandemia surge como um efeito de nossa falta de conexão com a Terra, então precisamos restabelecer nossa conexão com Gaia, buscar uma melhor relação com ela, aprender com ela, reconhecê-la e respeitá-la. Só assim alcançaremos nossa perspectiva de Bem Viver e, alcançando, poderemos, enfim, viver em harmonia com tudo que nos rodeia. E como nos lembra Krenak: “O Bem Viver é uma produção. Ele não é alguma coisa que está pronta para a gente se apropriar (…) Ele vai exigir doação também de cada um, para que ao nosso redor o mundo seja colaborativo, acolhedor e que estimule a criação de vida”.

De forma geral, é um guia para aqueles que desejam conhecer mais sobre o pensamento crítico, principalmente sob um enfoque prático. Tem um formato adequado, que propicia a leitura-estudo, servindo para uma autoaprendizagem, sem necessariamente auxílio de um instrutor ou professor. Sugiro sua leitura para todos os públicos e interessados em compreender e aplicar o pensamento crítico nas situações cotidianas da vida.

Referência: KRENAK, Ailton. Caminhos para a cultura do Bem Viver. São Paulo: Cultura do Bem Viver, 2020. 36 p.

Fontes citadas no texto:

• SARTRE, Jean-Paul. O Ser e o Nada: Ensaio de Ontologia Fenomenológica. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

• CORTELLA, Mario. Não nascemos prontos – provocações filosóficas. 19. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.

• SUESS, Paulo. Elementos para a busca do Bem Viver (Sumak Kawsay) para todos e sempre.

• BONIN, Iara. O Bem Viver indígena e o futuro da humanidade. Conselho Indigenista Missionário. 11 de de 2021. Disponível em: https://cimi.org.br/o-bem-viver-indigena-e-o-futuro-da-humanidade/. Acesso em: 11 de ago. de 2021.

• KRENAK, Ailton. A Terra pode nos deixar para trás e seguir o seu caminho. Entrevista concedida a Anna Ortega. Jornal da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, p. 1-11, nov, 2020. Disponível em: < Ailton Krenak: “A Terrapode nos deixar para trás e seguir o seu caminho” | (ufrgs.br)>. Acesso em: 11 de de 2021.

Sobre o autor

Vanderlei Tenório

Vanderlei Tenório é jornalista e redator, atua como comentarista de cinema e colunista dos jornais Tribuna do Sertão e Gazeta Regional de Jaguariúna, do webjornal O Estado RJ (OERJ), dos portais 082 Noticias e JB Notícias. É colaborador do portal Repórter Nordeste e dos sites portugueses Cinema Sétima Arte e Distrito. Escreve esporadicamente para o jornal impresso Tribuna de Itapira, para o site Alagoar e para a Revista Alagoana. Em 2021, foi indicado ao Prêmio iBest 2021 em 3 categorias: Notícias e Jornalismo, Cultura e Curiosidades e Cinema, TV e Streaming. Integra o quadro de associados correspondentes da União Brasileira de Profissionais de Imprensa (UBRAPI) e é membro do brCidades.

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