Autoconhecimento Comportamento

Saber e não fazer é ainda não fazer

Menina em um livro flutuando no céu com uma lupa na mão.
Escrito por Andrea Fray

Por que será que às vezes é tão difícil a conexão entre o conhecimento teórico e a sua aplicação, principalmente no âmbito do autoconhecimento, do saber de si? Quantas vezes você disse: “Ah! eu sei disso, mas…” e na prática acaba não conseguindo aplicar o que diz saber?! Simplesmente não o faz?

Para compreender esses porquês, primeiramente abordaremos o conceito do que é sabedoria e inteligência. Segundo a PNL, sabedoria é inteligência experimentada. Pois é! Sabedoria é a resultante de inteligência aplicada, ou seja, saber só é saber se executado na prática.

E o que é inteligência, então?

A inteligência é um conjunto de características próprias de um indivíduo que o capacita ao “experienciar”; é uma capacidade única desenvolvida por interações individuais frente a qualquer tipo de evento, situação, atividade, fenômeno, os quais aqui chamaremos de estímulos.

PAUSA!

A relevância deste artigo está nas próximas palavras: inteligência tem a ver com você e seu cotidiano, sendo responsável por tudo o que você conquista ou deixa de conquistar, tem a ver com o como você se relaciona e se expressa, pois, sendo a inteligência uma faculdade de compreensão e adaptação que compõe a estrutura humana e relaciona-se com a capacidade de captar e expressar o mundo, ela dita e materializa as qualidades das suas relações com tudo o que diz respeito a você: área familiar, profissional, financeira, social, física, afetividade, assertividade, eficiência, capacidade de discernir etc.

VOLTANDO…

Para saber como aplicar um saber, é preciso antes conhecer como se dá o processo de aprendizagem. Para tal recorreremos à área da neurociência cognitiva e à teoria do filósofo e psicólogo suíço Jean Piaget, pioneiro nas construções sobre o saber.

Segundo Piaget, o processo de aprendizagem acontece quando a interação física ou mental do indivíduo sobre estímulos provoca um “desequilíbrio” no “sistema de saberes’’ já estruturado e já organizado, os chamados esquemas, do indivíduo. E esse desequilíbrio exige modificações cognitivas no sujeito, estas são chamadas de assimilações (quando há a tentativa de o indivíduo encaixar a nova percepção em um esquema preexistente) ou acomodações (ações do indivíduo em ajustar-se a um novo objeto/situação, a fim de assimilá-lo e de se adequar a ele), gerando assim construções de novos esquemas, de novas organizações, e então de “novos conhecimentos”, de um novo saber específico ou de uma adequação, resultando em um indivíduo transformado, e/ou adaptado.

Mão encaixando uma lâmpada no lugar da cabeça.

Quem orquestra e conduz todo esse ciclo é o sistema nervoso central, que é também, sabidamente, o responsável por estruturar as atividades voluntárias e involuntárias do corpo humano e claro o funcionamento dos sensos, dos órgãos dos sentidos.

Tá, mas por que agora falar dos órgãos dos sentidos?

Porque são eles que atuam como a interface de captação e interação entre o indivíduo e os estímulos advindos do meio.

Para que haja aplicação eficiente de um saber, toda a interação do indivíduo com um estímulo, no momento da aprendizagem, deve estar amparada pela qualidade com a qual a informação é captada e então processada pelo sistema nervoso central. E isso é maximizado com o “investimento nos sensos”: investimento no potencial de audição, tato, olfato, paladar e visão.

Os sensos precisam estar apurados para que a captação de estímulos seja realizada da maneira mais legítima possível, contribuindo para uma interpretação cognitiva mais legítima e uma resposta comportamental mais adequada ao meio. Dessa maneira, é essencial que entendamos que tanto a captação como o processamento das informações pelo cérebro envolvem aspectos que são dependentes da qualidade do organismo em receptá-las, ou seja, da qualidade e bom funcionamento dos órgãos dos sentidos.

Mas não são só os sensos que atuam de maneira primordial nesse processo.

Emoção, motivação, atenção, socialização e memória são fatores responsáveis pelos níveis de envolvimento do indivíduo com o estímulo, pois interferem no processo de aquisição de informação.

A emoção contribui de forma a fixar mais ou menos um estímulo, ou seja, quanto maior for a emoção no momento do envolvimento com o estímulo, sendo ela prazerosa ou não, maior será a lembrança do estímulo e a significação dele para o indivíduo.

Mulher com os olhos fechados e os braços para frente sentindo o ambiente.

A motivação é o fator que contribui para a disposição do sujeito em captar novos estímulos, o posiciona de forma a poder viver o desconhecido, o novo, a encarar e interagir com os novos estímulos. A curiosidade está completamente relacionada à motivação, pois dispara o fator motivador, predispondo o sujeito a aprender.

A atenção tem a ver com a “quantidade” de interesse despertada no indivíduo pelo estímulo e esta é acionada de acordo com o quanto faz sentido para o sujeito aquele dado. Quanto mais, mais atenção será dada ao evento.

Socialização diz respeito às interações do indivíduo com outras pessoas, com a natureza, com a linguagem verbal, com os valores e com a cultura que o rodeia. A socialização é importante porque ela induz a estruturação dos filtros para a captação e interpretação dos estímulos, pois o estímulo tenderá e será vivenciado de acordo com conceitos pertinentes ao meio em que o indivíduo se encontra.

A memória relaciona-se às repetições e ao quanto o estímulo captado afetou o indivíduo, assim sendo, quanto mais repetições, mais absorção do conteúdo proporcionado pela interação.

A aprendizagem é dependente da qualidade dos órgãos dos sentidos e do nível de envolvimento psicoemocional e “permissões” socioculturais na interação do indivíduo com os estímulos.

A aprendizagem tem relação com as experiências sensoriais (captação de estímulos) de um indivíduo frente ao seu meio, mas também com a maneira com a qual um indivíduo conduz suas experiências, e estas, por sua vez, estão totalmente interligadas com a qualidade do organismo em realizar tais captações. A gestão entre captação e interação com estímulos é que formará a inteligência de cada pessoa, ditando assim suas interações e seu desenvolvimento humano, expresso e concretizado em termos de comportamento, ou seja, de sua maneira de encarar, viver e conquistar a vida.

A aplicação do saber para ser eficientemente realizada depende da condição e aptidão física e psicoemocional do indivíduo.

Silhueta de um menino lendo um livro sob o pôr-do-sol.

Por isso, lhe pergunto:

Como está o seu corpo? Como está o funcionamento de seu processamento mental? Como andam as suas emoções? O que tem sentido? Isso tem contribuído com a aplicação de seus saberes? Você tem se proporcionado condições físicas e emocionais saudáveis para captar e exprimir o seu melhor? Com quais esquemas você tem se identificado? Quais emoções estão estruturando seus esquemas? Isso tem ajudado você?

A terapia tem por base conduzir o indivíduo a processos constantes de “reequilíbrio”, de aprendizagem, estimulando o indivíduo ao si mesmo por meio da ampliação da percepção de seus mecanismos esquematizados e, assim, com maior consciência, possibilita o redirecionar da atenção a caminhos novos de ação, caminhos mais integrados às suas potencialidades e à sua natureza, de modo a explorar suas habilidades, buscando formas de capacitar suas capacidades. Sim, capacitar a forma de comportamento que habilita o agir!

A terapia tem relação com o processo de construção de novos saberes sobre si e sobre novas aplicações de si, que só podem ser de fato exercidas, se integradas ao sistema do indivíduo como um todo, ou seja, ao seu organismo.

O processo terapêutico é muito importante, pois leva em conta o processo individual de interações frente a estímulos, foca na construção do conhecimento, da captação, da qualidade de captação e do direcionamento do aprendizado, de modo a contribuir com soluções mais fluidas, benéficas e adequadas a cada pessoa para que o saber se torne realmente um saber e que essa sabedoria se torne possível e naturalmente aplicável.

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Sobre o autor

Andrea Fray

Terapeuta integrativa sistêmica, pós-graduada em psicologia cognitiva e comportamental com ênfase em terapia familiar e de casal, master em hipnose conversacional (Change Work) e coach - life, leader, professional (turn point).

Possui também especialização em meditações ativas, gestão de pessoas e formação em processos gerenciais.

Idealizadora do método CCD (Current Context Diagnosis) de terapia breve.

Pesquisadora, escreveu artigo científico, abordando a autenticidade como método na clínica psicológica.

Atua desde 2005 realizando atendimentos individuais e para grupos com crianças, adolescentes e adultos em espaços terapêuticos, escolas, CAPSIS, promovendo projetos próprios na área de desenvolvimento humano, atendendo demandas de forma exclusiva, criando propostas e processos totalmente particulares.

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