esses tempos em que vivemos tudo é volátil e efêmero, porque tudo corre contra si mesmo, desde que a tecnologia da informação (TI) invadiu nossas vidas com incontida fome de tudo mudar e transformar em velocidade alucinante. E, desde então, para o bem e para o mal, o que era passageiro aceitou mansamente ser imperceptível e o inconstante assumiu as feições indistintas de algo condenado a ser mistério.
Um dos rebentos da transformação acelerada que nos tem afetado todos os dias é a popularização do algoritmo como matriz, ora de compreensão, ora de regência de rumos e tendências.
Do novo aroma para um outrora inocente sabonete, serve o onipresente algoritmo para até determinar o comportamento final do consumidor. Numa outra dimensão, o algoritmo é a matriz para a navegação espacial, levando a que minúscula nave acerte o ponto exato de distante corpo celeste e cumpra uma série de tarefas de alta complexidade, quase sempre procurando por sinais de vida além da que temos pelas bandas de cá. A moderna e evolutiva ciência da computação cria e recria com seus algoritmos as hipóteses e as respostas de que tanto necessitamos para seguir adiante por todos os mundos, conhecidos, desconhecidos, aqui perto ou lá pelos fins das distancias medidas em milhões de anos luz.
Uma boa programação inspirada em precisos e disciplinados algoritmos tem sempre forte inspiração nas teias armadas pela Natureza para definir e reger a Vida, o que me leva, muitas vezes assustado com a grandiosidade de tudo o que consigo aprender e entender, a acreditar que o Senhor desde antes da gênese apreciava as possibilidades dos algoritmos, na verdade criados por Ele ou por seus preferidos que agiam como engenheiros da Criação.
Mas não precisamos de um algoritmo para mergulhar e deslizar pelas imensas pradarias e vales floridos do amor, conversando com passarinhos e brincando de pega-pega com brilhantes peixes, ou saltando de um floco de nuvem para outro, nessa destemperada viagem pelos estados oníricos da existência, em que o amor se alimenta para a sua parte na obra da expansão do Universo.
E não precisamos porque nem o mais complexo dos algoritmos seria capaz de definir caminhos e regras para o amor, porque de simples este só tem mesmo a composição da palavra, quatro letras, duas consoantes e duas vogais. O resto é matéria complexa porque menos que isso não pode ser o que mais se aproxima do magnífico, e temos que os apelos complexos requerem condições especiais de sintonia, para que sejam compreendidos e vivenciados. Bem que tentaram os poetas, os músicos, os artistas plásticos, os literatos e muitos mais que dedicaram suas vidas a explicar e definir o amor. Viveram, aprenderam, amaram, desamaram, foram surpreendidos e tragados pelo inimaginável e foram para outras dimensões sem submeter o amor aos limites do explicável o que, paradoxalmente, levou a que este alcançasse o estado de arte, pois assim é esse tal de amor.
Não é fácil viver o jorro de emoções que acompanham a experiência de amor, não importa quem sejam seus elementos ativos: de amor por uma plantinha que emergiu de semente distraidamente cultivada num vasinho de canto de janela até o amor por todos aqueles seres pelo mundo afora mais carentes e menos conhecedores do amor verdadeiro, como o que vem das ondas que só são formadas nos oceanos internos de emoções e sentimentos de homens e mulheres de enorme compaixão pelo semelhante. É grande demais para ser contido nas instruções de delimitações da lógica precisa de um algoritmo, bastando que nos lembremos que até existe o chamado amor à primeira vista, de geração espontânea e sem previsibilidade e regras temporais, fatores admissíveis nos algoritmos que gerenciam a rede de comunicação que capilariza-se pelo mundo inteiro e não demora estará definindo as regras em planetas que ainda serão descobertos… por um algoritmo!
Nós o sentimos, dele nos alimentamos, com ele transformamos todas as relações e interações humanas e cada um tem a sua própria fórmula, qual soberano alquimista no mundo em que só valem as próprias emoções e sentimentos!
Para nossa imensa sorte – ufa! – o amor que nos humaniza e aproxima do divino não se submete às manipulações do marketing e nem à prisão das regras cartesianas e desde sempre se safou das teorizações das ciências que supõem ter resposta para tudo.
Por ser simples o amor é viável. E o melhor negócio é não dar trela para os que tentam compô-lo em linguagens que permitam decifra-lo. Melhor mesmo é olhar com mais atenção para a sabedoria dos poetas, seres que à incapacidade de explicar o amor contrapõem a entrega absoluta sem outra intenção que não a de transcender a miúda condição humana e, por breves instantes que sejam, sentir a proximidade da face de Deus.
Texto de Benedito Milioni
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