Diante das circunstâncias atuais, eu — e acredito que mais um milhão de pessoas — comecei a pensar constantemente sobre a morte. O que era antes um evento esporádico, algo que acontecia uma vez ou outra — dentro da minha realidade, é claro — tornou-se algo diário e em grande escala.
Passei boa parte das semanas do isolamento lendo sobre o que acontecia, me esforçando para não entrar em pânico, afinal eu ainda estava viva — graças a Deus — e precisava cumprir com as minhas obrigações.
No entanto, o constante medo da morte me fez pensar muito sobre a vida e como eu estava guiando a minha existência até este momento. Percebi que eu havia realizado muitos sonhos e estava feliz com a minha jornada, mas ainda assim não era o suficiente para pensar “se eu morrer hoje, tudo bem, porque eu fiz minha parte”. Sim, eu fiz a minha parte, mas só no que diz respeito a mim, até o momento eu pouco tinha feito pelo próximo e pelo planeta e, se eu queria encarar a morte com a mente em paz, era hora de agir pelo próximo.
Ainda nesta reflexão, notei o quanto eu sou privilegiada e quantas pessoas ao redor do mundo estão muito mais expostas à morte do que eu. Me toquei que isso não é só durante a pandemia, mas acontece desde que eu me entendo por gente. Eu estava tão ocupada trabalhando, estudando, tentando fazer outras coisas, que mal percebia que me enchi de mim e me esvaziei do próximo.
Eu não vou dizer que sou grata ao isolamento por isso, seria egoísmo agradecer a esse trágico acontecimento por um insight que eu poderia ter tido em qualquer outro momento, mas diante das circunstâncias este foi o melhor que eu pude fazer.
Decidi então que, mesmo dentro de casa, faria algo todos os dias para deixar a minha vida mais significante e ao mesmo tempo fizesse a diferença na vida de outras pessoas, e até mesmo na natureza.
O primeiro passo foi tirar um plano de anos da gaveta, o de virar vegetariana. Tentei infinitas vezes ao longo da vida, mas desta vez estou conseguindo com muito mais força. Cortei a carne vermelha e reduzi os outros tipos de alimentos, tudo será feito aos poucos, mas já é um primeiro passo. Afinal, grande parte do desmatamento, desperdício de água e algumas das doenças mais perigosas acontecem por causa do consumo de alimentos de origem animal. Deixarei alguns estudos nas referências para quem quiser entender mais¹.
O segundo passo foi olhar para o meu dinheiro e perceber que eu tenho a sorte de “ter sobrando” uma pequena quantia no mês, e que ela poderia fazer a real diferença na vida de outras pessoas. Então comecei a ajudar dois projetos com doações, o Fraternidade Sem Fronteiras e o Instituto Criação.
Saiba mais sobre eles aqui:
O terceiro passo — um bem importante — foi aprender a ouvir, compreendendo que o próximo está sofrendo tanto quanto eu e que às vezes eu andara falando demais, e escutando de menos. Me propus a ouvir os desabafos das pessoas que amo, esforçando-me para não julgar ou tentar colocar minha opinião, apenas abrindo um espaço real para que elas esvaziem o peito delas. Ao fazer isso, percebi que ajudar o outro, acalma a mim.
Entendi que não importa o que façamos, estamos sempre buscando algo individual, seja ganhos, aprendizados, evolução ou conforto, mas que o que importa é crescer segurando a mão dos outros, para que eles cresçam com a gente.
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Este texto é apenas uma forma de expor os aprendizados que momentos tão difíceis como este me proporcionaram. Escrevo na confiança de que ao menos uma pessoa lerá e se sentirá inspirada a ajudar o próximo, tanto quanto eu me senti algumas semanas atrás.
Obrigada a você que leu até aqui!
¹https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2019/08/09/15-do-efeito-estufa-vem-de-desmate-e-agropecuaria.htm