Perigo! Quando o abuso emocional perpetua-se por tempo demais, o resultado é como se as vítimas tivessem passado por um processo de lavagem cerebral, em que as suas verdades gradativamente foram sendo apagadas até desaparecerem por completo. Será?
O narcisista perverso corrompe, desmoraliza, deprava e altera a identidade de quem estiver ao seu lado. O prazer está em agir nos bastidores, onde ninguém do mundo externo vê. O que quer que façam, vem com a maestria de confundir destruindo todo o sentido de moral e de comportamentos considerados normais da pessoa com quem ele tiver mais intimidade.
Perplexa a princípio, a presa tenta ter clareza sobre o tipo de mensagem recebida, são críticas sutis, junto a informações totalmente desconexas. Com o passar do tempo, as críticas vão ganhando peso, os humores mudam, embora a lógica das situações ainda continue desconexa. O intuito, como se sabe, é a desestabilização psicológica.
Em sistemas em que os abusos emocionais imperam, a interpretação das ações que desestabilizam costuma ser negada, mesmo que seja em meio às evidências. Nessas ocasiões, o narcisista, ofendido, ainda destilará toda a sua corrosiva fúria nos que ousaram questioná-lo, inserindo muito mais dúvidas e culpas ao redor.
Dentro desse tipo de manipulação abusiva, uma das estratégias bastante conhecida é o uso, ou melhor dizendo, o abuso do duplo vínculo. Como exemplo de consultório, temos a mãe que diz à filha que a ama, porém as suas atitudes se revelam opostas. As situações surgem de modo inesperado, em nome de quebrar a estabilidade emocional de quem ingenuamente se entrega de modo afetivo. No caso referido, a mãe narcisista em meio ao seu adoecimento, não suporta a afetividade de sua filha, inveja o que não tem, fazendo de tudo para destruí-la e ser novamente o centro das atenções. Suas artimanhas podem acontecer tanto pelo drama como pela dor ou pelas suas demonstrações de superioridade, pois para ela os meios sempre se justificam, o importante é que no final o “circo pegue fogo” e ela como protagonista de suas manipulações possa ser referida, sendo o assunto de importância. Ela sempre acusa que o outro se magoa demais, porém jamais esquece os maus-tratos que imagina que teve, nunca cede, nunca reconhece o que fez, inverte as histórias e culpa aquele que estiver reclamando. Ela é inquestionável, nunca reconhece um erro, e ela sim é a vingadora, a que nunca esquece.
As injustiças e situações que mães, maridos e parcerias adoecidas dessa ordem provocam são inacreditáveis e da ordem do infinito. Quando recebo em meu consultório pacientes quase que enlouquecidos de dor, de desespero e de perplexidade pelas bizarras situações por que passaram, reconheço de imediato o quanto que necessitam serem ouvidos, reconhecidos e legitimados em suas dores e histórias de vida. É muita dor e muita angústia para se suportar sozinho. Todos os que passaram por abusos emocionais têm histórias desconexas e de não reconhecimento da verdade. Lembro-me de uma paciente que foi visitar os pais no hospital por causa de um stent que o pai havia colocado, conta que levou flores e bombons, e que em meio à sua natureza afetiva a mãe aproveita de seu momento de espontaneidade e de amor, e como uma boa mãe narcisista que em algum momento não se vê como sendo o centro das atenções, dissimula um ataque de sofrimento em nome de destruir a harmonia do ambiente. Nesse caso específico, inventa uma história totalmente descabida, afirmando com bastante ênfase que alguém lhe havia contado que essa filha casada teria um amante, algo que naquela circunstância além de ser impossível seria imperdoável. A filha surpresa e indignada com a mentirosa revelação começa a chorar perguntando por qual motivo a mãe teria falado algo tão absurdo e terrível naquele momento, também perguntando quem seria a tal pessoa que teria feito aquela fofoca descabida. Como resposta, a mãe fica impassível vendo a filha literalmente se descabelar diante da dor da injustiça imposta como verdade. Diz que não irá revelar em hipótese alguma e ainda critica a filha sobre o seu descontrole emocional. Como golpe final, a mãe se diz magoada afirmando que sempre amou a filha e que não merecia nem iria tolerar atitudes de desrespeito como essa só porque contou algo que há muito a afligia, terminando o assunto em meio a um imenso mau humor, evidenciando sua mágoa e ira por não ter sido compreendida pela tal filha ingrata.
Como essas mães são patologicamente adoecidas, anos depois essa filha vai relembrar a mãe, ainda perplexa pelo episódio, buscando por um pouco de compreensão, lucidez e quem sabe uma reparação daquele mal-estar causado, e como resposta ao episódio a mãe respira profundamente aparentemente reflexiva revelando que se lembrava do fato e que teria feito aquela cena deliberadamente para se vingar da filha por causa de ela não ter acatado suas orientações em outro episódio de que nem ela mesma se recordava, e blasfemando novamente tenta jogar mais culpa na história, dizendo estar cansada da reclamação. Esse seria um exemplo enlouquecedor de duplo vínculo.
Outro exemplo clássico conta a história do duplo vínculo quando uma mãe vai visitar o filho internado num hospital psiquiátrico e estando à sua frente pergunta: “Não vai dar um abraço em sua mãe?” Polidamente, o rapaz coloca os braços ao redor de sua mãe. No entanto, ao tentar beijá-la, esta se coloca visivelmente rígida, claramente incomodada pelo contato físico. Respondendo à mensagem não verbal de sua mãe, o garoto afasta-se confuso de seus braços, diante do que sua mãe lhe pergunta: “O que está acontecendo? Não gosta da sua mãe?” Ainda mais confuso e incomodado do que antes, o rapaz fica tenso, afastando o olhar, diante do que a mãe alfineta: “Você tem que aprender a controlar suas emoções!”
A interação de ambos continuou dessa maneira, com a ansiedade do rapaz aumentando por alguns momentos, até que explodiu em um episódio violento que necessitou que fosse fisicamente contido.
No duplo vínculo, a primeira mensagem é: se você não me abraça é porque não me ama e por conseguinte não terá minha aprovação. No entanto, a segunda mensagem é: “Se você me abraça, me faz sentir-me incomodada e me afastarei e por conseguinte não terá minha aprovação.
Nesse caso há também uma terceira mensagem relacionada com a reação do rapaz ante o dilema. O comentário de que: você tem de aprender a controlar suas emoções implica que a fonte do problema está na incapacidade do filho para controlar suas emoções, em vez de estar na incongruência da mãe. A implicação consiste em: o fato de você se sentir confuso significa que algo não funciona bem em você. Você é a causa do problema/confusão/etc.
Essa terceira mensagem parece ser uma parte importante do padrão de duplo vínculo. A outra pessoa interpreta o incômodo ou a confusão do indivíduo como um sinal de:
1) incompetência, ou de 2) intenção negativa procedente de uma posição de poder da pessoa pega no duplo vínculo (inversão da realidade). Também, de maneira muito frequente, a terceira mensagem corresponde ao nível de identidade e constitui essencialmente uma mensagem de patrocínio negativo, sendo sua implicação a de que a confusão na qual se encontra o indivíduo é uma prova evidente de seu defeito nesse nível, quer dizer, que a ansiedade por se encontrar em um duplo vínculo é um sinal de caráter defeituoso de quem o experimenta. Talvez esse terceiro aspecto do duplo vínculo seja o que o faz mais emocionalmente intolerável (a parte do texto do duplo vínculo foi retirada de fontes da web).
* A teoria do duplo vínculo foi descrita pela primeira vez por Gregory Bateson e seus colegas na década de 1950.
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Sedução, corrupção e medo: se você estiver vivenciando uma situação em que o seu parceiro constantemente exige comportamentos que corrompem as suas crenças, o seu caráter e os seus conceitos sobre moralidade, ainda te ameaçando de abandono, saia dessa armação o mais rápido possível. Saiba que você está na trama de algum abusador,
e se necessitar de ajuda busque terapia.
Sua vida? Seu maior valor.
Quanto mais despertos, melhor!