Comportamento

Setembro Amarelo: o racismo como fator para a ideação suicida

Mãos de diversas cores se segurando formando um quadrado de união
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Escrito por Eu Sem Fronteiras

Em 2014, por iniciativa da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), foi criado o Setembro Amarelo. Nesse mês, são realizadas ações para conscientizar a população acerca da prevenção ao suicídio, em busca da melhoria da saúde mental no país. Mas será que basta falar sobre suicídio no geral em um país tão plural quanto o Brasil?

Um recorte racial pode ser um dos pontos necessários para abranger essa discussão. Entenda o porquê neste artigo e descubra o que pode ser feito para melhorar a situação em âmbito nacional.

Brasil tem alto índice de suicídio entre negros

Segundo um levantamento feito pelo Ministério da Saúde em 2016 (e divulgado em 2019), a incidência do suicídio é 45% maior entre jovens negros na faixa etária de 10 a 29 anos, em comparação a jovens brancos de mesma idade.

Essa é uma discrepância alarmante que merece atenção para falarmos sobre prevenção ao suicídio em suas diversas particularidades. Afinal, por que tanta diferença entre vítimas negras e brancas? Vamos tentar entender o que está por trás dessa situação tão preocupante.

O que explica esse cenário?

Vamos direto ao assunto: o racismo é um grande (e ignorado) fator de risco para o suicídio. Não se trata de uma simples dicotomia entre negros e brancos, nem do fato de o nosso país ser majoritariamente constituído por pessoas negras e pardas. A questão principal é o racismo estrutural que acomete o Brasil.

Se, por um lado, jovens negros crescem com o racismo os acompanhando, por outro também são ensinados a serem fortes, porque precisam encarar essa sociedade discriminatória. Mas a questão que fica no ar é: até onde é saudável ser tão forte?

O jovem negro é ensinado a não expressar seus sentimentos, porque precisa ser forte. Em contrapartida, a sociedade continua o relegando a uma posição social em que direitos básicos lhe são negados. Ele sofre injúrias, privação de liberdade, apagamento, entre tantas outras violências (que chegam a ser físicas também), mas precisa ser forte e resistir, pois o racismo já está naturalizado ao seu redor.

Isso se soma ao fato de que é muito mais fácil um jovem negro sofrer com desemprego, falta de estudo e de oportunidades do que um branco. É muito mais fácil que estejam expostos à violência, à marginalidade e à inferiorização. E tudo isso se deve ao próprio racismo estrutural.

Aliás, vale lembrar o que ocorria lá na época da escravização: era comum negros tirarem a própria vida para escaparem da situação desumana em que viviam. Inclusive, era igualmente comum levar seus filhos junto. Então vemos que não é algo atual, muito pelo contrário: é uma questão de saúde mental já há muito enraizada.

Se pensarmos no impacto emocional de todos esses fatores reunidos, fica evidente o motivo pelo qual jovens negros têm muito mais probabilidade de cometerem suicídio. Esse não é um assunto no qual se fala muito, mas que precisa ser profundamente explorado.

Mulher negra com mensagem "Stop Racism" na palma da mão aberta na frente do olho esquerdo
Dmytro Zinkevych / Shutterstock

Medidas são necessárias. Mas quais?

Primeiramente, é necessário falar sobre isso, e a discussão não deve se ater somente à campanha Setembro Amarelo. É preciso pensar e falar sobre o problema durante o ano todo. Afinal, ninguém espera setembro chegar para vivenciar a ideação suicida. Se falamos em prevenção, devemos continuamente trabalhar com ela.

Além disso, jovens negros precisam ser ouvidos. Suas dificuldades e o preconceito que sofrem não devem jamais ser ignorados, pois esse silenciamento se soma à maior probabilidade de cometerem suicídio.

Os profissionais da saúde também devem estar atentos. Considerar as especificidades e vivências de cada paciente é crucial para entender o seu caso, e isso inclui a questão racial.

Mas o movimento mais profundo para combater o problema é lutar contra o racismo estrutural. Não bastam medidas paliativas para lidar com o estrago já feito. É preciso chegar à raiz do problema e combatê-lo com educação, com medidas de reparação histórica e com o fortalecimento da rede de atenção psicossocial.

Todos precisam ter mais acesso ao atendimento gratuito na área de saúde mental. E mais: é preciso que nesse e nos demais espaços haja representatividade! Os próprios profissionais da saúde precisam deixar de ser majoritariamente brancos.

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Vemos, assim, que se trata de um problema complexo e há muito enraizado, que precisa ser tratado com atenção em cada detalhe. Só assim há possibilidade de mudar a situação dos nossos jovens negros, conferindo-lhes o devido direito à manutenção da saúde mental e da dignidade.

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