Por qual motivo essa falta de sintonia acontece? Primeiro é preciso analisarmos as nossas motivações para iniciar uma relação: carência, paixonite aguda, admiração pelo outro, interesses em comum, etc. Tudo é válido para disparar em nós aquele impulso espetacular que faz as nossas pupilas dilatarem e a nossa mente focar em todos os pontos em comum com o outro. Que coisa impressionante essa capacidade que temos, quando apaixonados, de enxergar qualidades e afinidades e como elas de repente podem sumir do nosso campo de visão com o tempo e dar lugar para questionamentos do tipo: “meu Deus, onde é que eu estava com a cabeça?”. Chego a dar risadas aqui relembrando as minhas próprias experiências.
O bom é que toda experiência nos oportuniza aprendizados valiosos. E com o tempo vamos aprendendo a “ler os sinais”, que no fundo eram óbvios desde o início e não enxergamos porque estávamos tão fixados no ideal, que nós mesmos criamos, a respeito da pessoa por quem estávamos interessados no momento que simplesmente rejeitamos, consciente ou inconscientemente esses sinais.
E às vezes fazemos pior: entramos em uma relação cientes de “defeitos” do outro e criamos a ilusão de que seremos capazes de mudar isso na pessoa. Faço questão de tratar o termo defeitos entre aspas porque considero que eles, na verdade, podem ser características, interpretados como defeitos por alguns e como estilo de vida por outros. Aí é que está o “x” da questão.
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Imagine o perigo de querer mudar algo em uma pessoa que nem ela mesma reconhece como um problema, mas que pode ser uma característica que a pessoa carrega com ela nos seus registros familiares (genética), tipo de criação, referenciais ou programações mentais que sirvam como defesas emocionais para ela enfrentar a vida. Olhe só a encrenca que nos metemos quando queremos mudar alguém ou forçar uma adequação para atender nossas expectativas.
O que de fato podemos fazer é buscar DESPERTAR visões mais amplas. Podemos fazer isso construindo cenários com nosso parceiro(a), sugerindo um contexto sem os elementos que consideramos defeitos nele(a). Depois disso, devemos analisar as novas percepções e reações do outro(a) a respeito desse “novo mundo”. A partir dessas reações saberemos que ela simpatiza ou não com esse cenário e o quanto realmente se enxerga nele, não para nos agradar, mas pelo mero prazer de desfrutar de conquistas pessoais ao redor desse contexto.
É preciso sonhar juntos! Quando falo “sonhar”, refiro-me ao planejamento construído em cima de um propósito em comum. Isso é o que alicerça uma relação: o significado por trás de cada quilômetro caminhado lado a lado.
Reflita sobre isso. Observe casais que vivem em harmonia. Eu conheço alguns. Você certamente tem pelo menos um por perto. Experimente perguntar para essas pessoas o que faz com que elas permaneçam juntas e tenham uma relação saudável. Provavelmente, você escutará a mesma resposta que obtive: “A decisão de ficarmos juntos, aliada com a admiração pelo outro em determinados aspectos e os ideais em comum.”
Estes podem ser alguns dos critérios que alimentam a tal sintonia que tanto defendo.
Acredite: precisamos dela para dançar as canções que a vida toca. Às vezes em ritmo de salsa, às vezes um tango, às vezes valsa e em várias sinfonias, ritmos e tons. Cada casal é um par de “dançarinos”, que precisa dançar juntos a mesma canção e para isso é preciso estarem sintonizados na mesma estação. Certamente acontecerá, em algum momento, de um dos dois ou ambos perderem o ritmo ou o equilíbrio e se atrapalharem na dança. É preciso disposição para acertar o passo, para não pisotear o parceiro(a) e até as pessoas ao redor.
Se quiser entrar e desfrutar da espetacular dança da vida a dois, será preciso alinhar o passo quantas vezes for necessário, sincronizar o ritmo sob uma mesma sintonia. Esse é um treino diário. Para isso será preciso estar sempre disposto a ajustar o passo, mas sem querer ditar o do outro. Haverá momentos que você guiará a dança, e em outros será guiado.
Que você tenha ritmo, senso de humor e espírito de equipe para desfrutar do melhor na vida que começa a dois e pode se multiplicar e formar um grande baile.