Cresci com a minha mãe indo a videntes e cartomantes. Nós nos arrumávamos e pegávamos um ônibus que, geralmente, nos levava a um local muito distante. Chegando lá, esperávamos numa sala confortável e éramos orientadas a não falar, não gritar e não brincar sob pena de tapas nas orelhas (eram os anos 80, desculpem). Quando minha mãe chegava em casa, trancava-se com meu pai para discutirem as orientações. E sim, boas decisões eram tomadas e minha família prosperou.
Talvez por isso eu tenha me interessado tão cedo pelo tarô e pelas formas de aconselhamento espiritual. Estudei muito. Pensei: se vou fazer isso, vou fazer direito. Estudei psicologia, coaching, fiz milhares de incursões espirituais para, primeiramente, conhecer a mim e só depois orientar outras pessoas. E sim, tem dado certo. Ajudo pessoas (e famílias) a prosperarem e a realizarem sonhos – principalmente as mulheres. E isso me faz feliz.
Mas o problema são as pessoas que veem nisso mais uma fonte de renda que uma missão de vida. Outro dia minha mãe descobriu uma nova e quis que eu fosse. Gosto de conhecer o trabalho de outras pessoas, saber novas maneiras de lidar. Essa, em particular, era uma entidade que falava coisas sobre a sua vida “e não erra nada, dá até nome”.
Lá fui eu. A consulta dura duas horas mas a primeira hora é uma imensa palestra. A entidade fala rápido, com um sotaque forte e é difícil de entender. Ficava me fazendo perguntas o tempo todo, querendo que eu respondesse o que ela queria e dava broncas, muitas broncas, colocando-me num enorme saco chamado “humanos”.
E depois foi uma enxurrada de notícias ruins e desnecessárias. Saí atordoada, como se tivesse tomado uma surra. Ainda na minha boa vontade de entender que tudo aquilo era para o meu bem, fui para casa cabisbaixa e comecei a me sentir mal. Um desânimo, uma vontade de não fazer nada. Percebi que estava fortemente influenciada pelas notícias nefastas da tal entidade e decidi: “Não, pare já com isso! Ninguém tem o poder de decidir a sua vida a não ser você mesma”.
A questão não é charlatanismo, não acho que seja o caso. A pessoa realmente acredita que a entidade está ajudando. A questão é a maneira como passa as informações e como isso pode perigosamente se tornar uma profecia autorrealizavel.
Se eu acreditar, saindo de lá, que meu casamento pode acabar em seis meses, posso ter duas atitudes. Ou eu começo um trabalho intenso para que isso não aconteça ou eu mesma faço acontecer. Se estava tudo bem, uma “notícia” dessas pode fazer eu dê um jeito de a profecia ser real. Se não estava, e eu tiver a consciência disso, posso fazer alguma coisa com essa informação.
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Mas, de fato, as cartas ou vidência são só uma das possibilidades e tendencias — e a “entidade” ou a pessoa que vai passar a informação filtra isso com o espelho dela. Se for uma pessoa pessimista, possivelmente vai passar as opções mais pessimistas. Se for mais positiva, vai passar assim. O ideal é ser uma pessoa realista – que é o que tento nas minhas consultas –, passando para a pessoa as duas possibilidades e deixando que ela escolha.
Ninguém vai a uma consulta para descobrir que vai dar tudo errado, porque é aí que dá mesmo. Se você se sente assim com relação a qualquer profissional, simplesmente não volte lá. Nada vale a sua paz e lembre-se tudo sempre depende de você e ninguém, ninguém mesmo tem nenhum poder sobre a sua vida senão você mesma.