Gatilhos e balas. Presença constante para quem vive, para quem nasce, para quem se declara negro. E daí, claro, uma elite preconceituosa já acrescenta o mimimi, do outro lado uma militância que se perde constantemente, e nós, meros mortais, com um desejo ardente de paz e extinção do preconceito seja ele qual for, ficamos assistindo a falas, atitudes e reflexões do quanto podemos e precisamos nos informar. E do quanto precisam informar.
Não é sair na rua gritando “Vidas negras importam”, sendo que você nem sequer conhece o movimento. Não é comparar o cabelo com o seu como se você fosse o “ser superior” que quer ser amigo dos pretos; o fato é que as pessoas têm que pensar em comparações e principalmente conhecer lugares e lutas legitimadas e históricas.
A história do povo negro consiste em uma jornada de lutas, muito antes da escravidão no Brasil. Passaram por guerras, conflitos e muita superação. Foram reis e grandes guerreiros aprisionados, escravizados, humilhados que vieram trabalhar neste país. São reis e rainhas, não escravos. E daí a coisa mais comum é ouvir: “Sou descendente de escravos”, sendo que na realidade, somos descendentes de um povo de escravizados, e não de escravos.
Quando nós, brancos, que passamos, sim, por alguns impasses sobre questões e preconceitos, que sofremos com o prejulgamento da sociedade, mesmo sendo julgados constantemente – principalmente quem tem um menor poder aquisitivo –, ainda assim não sabemos o que é ser negro em um mundo que insiste em lembrar a história de um povo guerreiro que a história insiste em resumir em 500 anos de escravidão. É um povo muito maior que isso, uma luta muito maior que essa.
E aí surgem movimentos para enaltecer a identidade negra. Falas e costumes aparecem e ressurgem. O que, pra nós, muitas vezes, “passa batido”, para um preto é algo muito mais profundo. Imagine você sendo ridicularizado pelo seu cabelo liso e tendo uma vontade imensa de enrolá-lo só para ser comparado “ao padrão”; imagine você sair na rua correndo um risco iminente de ser parado pela polícia e quiçá ser comparado a um bandido. Consegue imaginar? Eu não.
E daí a cultura de massa começa a reproduzir situações do cotidiano, despertando dores adormecidas e gatilhos até então aparentemente inexistentes.
E o preto começa a querer o seu lugar. Já não quer ter que se “branquear” para ser aceito; ter o cabelo liso para poder se igualar; agora ele pode comprar maquiagem, cremes e xampus para seu tipo de pele. Olha que legal! É igualdade vindo aí. Será?
Surge então o black power, e mais uma discussão em rede nacional. Como disse Tiago Leifert, em mais um episódio épico do “Big Brother”: “Um cabelo black power, que é o cabelo do João, não é um penteado, é mais que um penteado. É um símbolo de luta, de resistência. Foi o que pretos americanos usaram como símbolo antirracista”, e continuou: “Você tá falando de um símbolo. Você tá falando do que o João é, do que o João sente, do que o João viveu na pele, da história do João, da ancestralidade do João (…)”.
E por isso, o apelo de hoje é para que o respeito e a empatia prevaleçam sempre. Não há motivo para comparações de cabelos, de roupas, de pele, de tradições; nossa sociedade não comporta mais isso.
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O black power, que você tanto achou engraçado e de homem das cavernas, é a coroa, símbolo do movimento Black. A diferença é que, para o homem das cavernas, o cabelo não era prioridade, muito menos resistência; para a luta preta, o cabelo não só é a liberdade como é coroa. Respeitar coroas e descendentes de reis não faz os brancos serem inferiores nem superiores; faz apenas darmos um grande passo para nossa sociedade ser constituída por seres humanos.
Mais respeito à coroa. Seja ela no cabelo, na pele, no gênero, no símbolo. Que seja na fala, na luta, no jeito. Mas que prevaleça a respeito pela luta.