E foi isso o que aconteceu em nossa última reunião, a Miti disse e eu escutei. Escutei que ser pai e mãe é uma nova chance de aprender, de perceber e ver a vida. É a possibilidade de escolher se queremos continuar iguaizinhos e ensinar nossos filhos a olharem o mundo com nossos óculos já viciados num certo horizonte e nas certezas que nos aterram a cada dia na mesmice de pensamentos e atos. Ou a possibilidade de trocar as lentes!
A possibilidade de nos tornamos aprendizes observadores de nós mesmos e dos nossos rebentos. De termos coragem de questionarmos a nós mesmos diante de acontecimentos e situações rotineiras e novas. De repensarmos a sociedade e cultura em que estamos inseridos e que nos guiam ditando o que é certo ou errado, bonito ou feio, bem ou mal.
Ser pai ou mãe é uma chance que temos de reescrever nossa história porque já te asseguro com toda certeza do mundo – é impossível não reviver traumas e medos, é impossível não repetir histórias dos nossos antepassados (mesmo sem conhecê-los) é impossível não sermos como nossos pais. Pelo menos por um tempo e/ou em algumas situações. E isso se tornará recorrente ou não, intenso ou não, desastroso ou não dependendo de como você encara sua história e do quanto está disposto e mexer e remexer no baú das memórias.
Pare e repare, como você fala com seu filho? Que coisas ensina pra ele? Que comidas faz pra ele? O que fazem aos fins de semana e nos momentos de lazer? Que princípios ensina que são fundamentais para se tornar uma boa pessoa? Eu aposto e grito TRUCO bem alto de que pelo menos em algumas dessas situações você repassa automaticamente o que te ensinaram.
Você pode argumentar agora que cada um é cada um e que todos fazemos escolhas sobre o que acreditar e como agir, e eu acredito nisso, aceito seu argumento. Mas, ainda sim, a força da imitação durante a aprendizagem e formação não é algo ser desconsiderado.
Autoeducar-se diariamente então é um pouco de tudo isso que escrevi acima, é estar disponível para percebermos o quanto temos verdades enraizadas que precisam ser repensadas, o quanto a impaciência, a falta de atenção e convívio social são (des)vividos e transmitidos por nós. É praticar a cada fala e gesto a educação, o reconhecimento e o respeito pelo outro.
É deixarmos de ver a vida pela perspectiva do nosso umbigo e tentar vê-la pela perspectiva do outro, porque ser pai e mãe é reconhecer e aceitar que cada filho, assim como cada pessoa tem seu ritmo, suas (im)perfeições, suas limitações e sucessos. É olhar pro nossos filhos com amor, respeito e paciência, mesmo quando crescemos sem isso.
É descobrirmos em nós um potencial de transformação que transmitirá aos nossos filhos a importância de ser livre pra aprender e reaprender continuamente sobre todas as coisas. Pois, em cada país, em cada cultura, em cada ser há verdades que precisam ser respeitadas e compreendidas e que verdades absolutas se existirem são bem poucas.
Que nos permitamos essa autoeducação diária e que sigamos como mestres e aprendizes pela nossa história.
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