Um tema que tem estado em minha mente nos últimos meses é a solidão. Isso porque tenho ouvido muitas reclamações sobre “não ter alguém” ou “se sentir sozinho” e, nessa época de pandemia, ficou ainda mais forte, porque todos têm vivenciado algo inédito: o isolamento social, que agora está sendo flexibilizado, mas ainda com muitas restrições que nos acompanharão por algum tempo.
E é essa a reflexão que eu gostaria de fazer com vocês. O que significa se sentir sozinho?
Pode-se dizer que é um vazio, um buraco que sentimos por dentro e queremos preencher com coisas externas ou com pessoas. Nesse momento, tem início um novo desafio, porque não encontramos alguém ou alguma coisa que consiga fazer esse papel. Nós idealizamos a pessoa ou a coisa que nos faria feliz, tirando a dor que sentimos. Porém, isto não é possível, porque o outro não é responsável pela nossa felicidade, não consegue dimensionar a dor que sentimos nem consegue preencher o nosso vazio interior. A dor é só nossa e uma de suas origens pode estar no sentimento de baixa autoestima.
A pessoa que não consegue amar a si mesma em primeiro lugar, não conseguirá encontrar uma outra pessoa que a ame também e, menos ainda, da forma como ela imagina.
O desenvolvimento do autoamor está intimamente relacionado ao fato de não nos sentirmos sozinhos, porque quando nos amamos, apreciamos a nossa companhia e vamos ao cinema, festas, viagens tendo a nós mesmos como companheiro.
Muitas pessoas podem estranhar isso e, inclusive, ver com olhos de tristeza: “Coitadinha, está sozinha.” Infelizmente, ainda persiste a ideia de que uma pessoa precisa de alguém para estar completa e feliz. Há sempre alguém querendo apresentar uma pessoa especial ou marcar um encontro para acabar com a “tristeza e solidão” do outro.
Sabemos que o ser humano é um ser gregário e precisa de vínculos, de pessoas ao seu lado para poder se desenvolver e evoluir. No entanto, isso não significa ser dependente do outro para ser feliz.
Se por um lado existe a solidão, por outro existe a solitude, que é o fato de saber estar sozinho sem achar isso deprimente. Entender a diferença entre solidão e solitude pode mudar tudo. Como dito acima, a solidão está ligada ao sentir-se sozinho. Já a solitude, é saber aproveitar a própria companhia.
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Em nossa passagem pelo mundo, nos deparamos com muitos desagrados e eles nos trazem o autoconhecimento. Pelo autoconhecimento, descobrimos nossos pontos fortes e nossas limitações e aceitá-las nos permite iniciar o processo de autoamor.
Pelo autoamor, conseguimos lidar com o vazio interno, ainda que ele não desapareça. Aceita-lo é não permitir que esse vazio seja maior que as outras coisas, lembrar que tudo é parte de um processo evolutivo.
Há um tempo fiz um seminário com Patch Adams, Doutor da Alegria, do filme “Patch Adams — O Amor é contagioso” e ele disse que lê muito, por isso tem muitos amigos. Na leitura, ele cria uma certa intimidade com os personagens e isto fez muito sentido para mim, porque quem lê realmente nunca está sozinho, conhece personagens, histórias, locais, costumes, enxerga diferenças, aumenta a autoaceitação e a aceitação do próximo pela compreensão das diferenças e acaba trazendo isso para o mundo real. Criar clubes de leitura pode abrir um novo horizonte.
Por fim, acredito que a reflexão seja essa: “Nunca estamos sozinhos” e se assim nos sentimos, vamos procurar amigos, fazer contatos, não supervalorizar o negativo. Talvez seja uma luta constante, mas cada vez que a solidão ou a dor se torna menor, nós nos tornamos mais donos de nós mesmos e da nossa vida. A solitude fica maior e as lentes que usamos para enxergar a vida começam a ficar mais coloridas. Precisamos nos dar a chance de enxergar a nós mesmos e ao mundo de forma diferente.
“A solidão deve ser uma vitória, uma conquista, um esforço pessoal para evitar o excesso de barulho interno e externo. Apenas na solidão tornada solitude eu consigo um período de mínimo distanciamento para redescobrir quem eu sou e, acima de tudo, quem eu não sou…” (O dilema do porco-espinho, Leandro Karnal)