Gula, avareza, luxúria, ira, inveja, preguiça e orgulho são os sete pecados capitais que assolam a existência humana. E convenhamos, caro leitor, em variadas proporções, todos nós temos um pouquinho de cada uma dessas características. Aliás, exceto a inveja. Ninguém admite ser invejoso. Ou você já viu alguém sair por aí dizendo: “eu sou invejoso”.
Segundo o historiador da Unicamp Leandro Karnal, as pessoas costumam ter orgulho dos pecados capitais, ou seja, de comer bem, de gostar de sexo, de descansar e das outras características, exceto a inveja. Mas por que? O que a inveja tem de diferente?
Pelo fato da inveja ser um sentimento de desejo por algo que é do outro, então ela revela impotência. O fato de reconhecer que o outro tem algo que não temos, portanto é superior nesse aspecto, gera vergonha. E ninguém admite isso, por mais que sempre exista uma coisa ou outra que a gente gostaria de ter e que outra pessoa foi agraciada, seja materialmente, intelectualmente e/ou esteticamente.
Karnal destaca que a diferença entre a inveja e a cobiça é que, no primeiro caso, a pessoa quer se apropriar daquilo que um outro indivíduo tem. No caso da cobiça, a pessoa ambiciona ter algo igual ao outro, portanto há uma vertente positiva nisso pelo caminho da motivação e de superar desafios. Embora sejam quase tratados como sinônimos, inveja e cobiça são diferentes.
Quem nunca ouviu falar na tal da “inveja branca”. Apesar de tentar amenizar o conceito de inveja, transferindo o seu significado para o mesmo da cobiça, ainda há uma pequena dose de racismo implícita na tal da inveja branca. Será uma mera coincidência que a inveja branca seja menos nociva que a inveja “não branca”? E a mala branca menos anti-ética que a mala preta? A magia branca atrelada ao bem e a magia negra ao mal?
Falando em mal, que mal a inveja pode fazer afinal? É possível prejudicar a si mesmo ou aos outros com esse sentimento? Para quem acredita na transmissão de energias negativas, certamente. Mas quanto ao mal que pode causar a nós mesmos, isso é evidente.
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A nossa condição humana, logicamente, nos coloca uma pequena dose dos pecados capitais, como citado acima. O devastador é quando algum desses defeitos se acentua em grandes proporções na pessoa, e com a inveja não é diferente. Enquanto a pessoa portadora da inveja tem a percepção de que a grama do vizinho é sempre mais verde, ela não tem a capacidade de perceber os sacos de adubos diários que o vizinho precisou colocar as mãos para construir o próprio jardim. Da mesma forma que nos falta alguma característica que o outro tem, a gente também possui algo que somente nós temos.
O que vale é se autovalorizar e também o que é nosso, como já dizia o poeta Alberto Caeiro:
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia. Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
- Texto escrito por Diego Rennan da Equipe Eu Sem Fronteiras.