Dias atrás fui convidada para participar de uma conversa em que o tema era sossego.
Falaríamos sobre a importância do sossego como construtor de relações saudáveis entre pais e filhos. Foi então que pensei no verbo sossegar, essa ação conjunta dentro de um ambiente familiar, onde muitas vezes o foco encontra-se apenas nas crianças e esquece-se com facilidade de olhar para os adultos do entorno.
Eu sossego. Tu sossegas. Nós sossegamos. Esse nós que só existe quando o eu é incluído nesse processo como parte ativa e participativa da experiência. Reforço aqui a importância que o autocuidado exerce nas nossas relações e, consequentemente, nas nossas vidas.
Buscar atividades que sejam significativas e que, ao realizá-las, eu possa me sentir mais calmo que antes de tê-las iniciado. Considero relevante frisar que não necessariamente a busca pelo sossego tem relação com atividades mais paradas ou que exijam do corpo certa imobilidade.
Uma mesma atividade exercerá ações diferentes a cada um de nós. Uns podem encontrar sossego numa prática de yoga, outros, tocando bateria.
Buscar por referenciais próprios e construir um repertório que atenda as nossas necessidades faz parte do processo de autoconhecimento, de autoeducação, para que assim não nos tornemos dependentes daquilo que facilmente encontramos representado por um ideal externo.
Ideal este que irá facilmente associar a palavra sossego a imagens de paisagens naturais que sugerem quase que a ausência de sons externos. Praia. Campo. Floresta. Imensidão azul, seja no céu, seja no mar. Tons naturalmente coloridos que se alternam criando uma atmosfera convidativa ao silêncio.
Sim, eu concordo que esse cenário é ideal ao sossego, ao aquietamento, a uma maior proximidade de nós mesmos que fará com acabemos nos aproximando com mais naturalidade do outro que nos acompanha. O contato com a natureza é essencial, eu sei, eu sinto.
Mas gostaria de compartilhar a inquietação que o encontro com essas imagens sugestionadas numa busca pela palavra sossego gerou em mim.
Senti-me desassossegada ao me dar conta de que aquele não era o cenário onde eu estava, que inclusive ele pintava algo distante da minha realidade, já que moro em um apartamento na cidade e estou mais rodeada por asfalto que por mato. Quase insidiosamente chegou junto uma mensagem que dizia mais ou menos assim: aqui não será possível encontrar sossego.
Percebam a sutileza da informação, e se eu não estivesse atenta a isso teria caído numa armadilha.
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Por isso reforço a importância de um referencial próprio, pois na sua ausência nos tornamos mais suscetíveis ao que nos é apresentado externamente.
O que para mim significa sossego? Quais são os lugares e as atividades que me tranquilizam? Quem são as pessoas com as quais eu posso experimentar o sossego? O que faz com que eu me acalme?
E junto a isso ouso dizer que vale muito a pena se deixar encantar pela beleza que nos habita e nos cerca e que seria valioso criarmos esse recanto de refúgio em nós mesmos, fazendo do nosso corpo um lugar confortável para se estar.
É possível encontrar sossego onde quer que estejamos! Experimente!