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Storyteller: a arte de contar histórias voltou à moda

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Surpreendi-me numa viagem recente à cidade de Saint Augustine, na Flórida, onde ficamos numa charmosa pousada de origem secular que, numa determinada noite da semana, contratou uma Storyteller para contar um pouco da história daquela cidade, que foi uma das primeiras a receber os descobridores da América. Foi uma experiência encantadora, revivendo o legado dos nossos primeiros ancestrais humanos.

Contar histórias é algo que fazemos desde sempre, desde que nos conhecemos por seres humanos, só que recentemente essa arte voltou à moda de forma intensa e profissional, invadindo os espaços de turismo, lazer, famílias, empresas e organizações.

histórias Creio que, desde os primórdios da era humana nas cavernas, usamos a arte de contar histórias para instigar nossa imaginação ou perpetuar uma mensagem ao longo dos tempos. Tivemos vários missionários e visionários que se destacaram nessa arte, mas, ao meu ver, Jesus foi o maior de todos os tempos. Mais de 2.000 anos depois que ele passou pelo nosso planeta, ainda ressoam seus exemplos, suas histórias, parábolas e seus mandamentos. O que ele tinha de tão diferente para que isso aconteça até hoje?

Os viajantes eram os contadores de histórias típicos que se mudavam de uma cidade para outra, repassando conceitos e informações no famoso “boca a boca”, trazendo mitos e lendas, reais ou não, que se formavam e se transformavam ao longo do tempo. Heróis, mocinhos, bandidos e vilões foram formando-se através das histórias contadas entre diversas gerações.

Contar histórias é um fator importante dentro da Programação Neurolinguística, pois é por meio delas (histórias e metáforas) que conseguimos transmitir uma linguagem de forma muito mais eficaz do que qualquer argumento lógico, uma vez que atingimos níveis subconscientes que conectam experiências pessoais às nossas memórias e emoções. Ajudam a construir o rapport.

Uma história lida ou contada faz nossa mente viajar, dando um tom emocional individual que é diferente para cada um de nós, uma vez que temos valores, vivências, experiências, memórias e percepções que são só nossas e de mais ninguém. Já perceberam que um livro famoso que é transformado num filme nem sempre agrada ao público? Você já leu um livro e depois assistiu ao filme e frustrou-se? Isso pode acontecer porque quando lemos o livro ou ouvimos uma história nos tornamos coautores do enredo, influenciados pela nossa própria história de vida; no filme já vem tudo pronto e normalmente bem diferente do que imaginamos…

A arte de contar histórias está sendo revivida de uma forma mágica, principalmente no âmbito empresarial, e as pesquisas de Neurociências nos mostram os efeitos fantásticos que uma história bem contada tem no nosso cérebro e na nossa mente.

Nos cursos e treinamentos que ministro tem sempre uma referência à arte de contar histórias, pois ela é a base da linguagem e da comunicação humana, seja no trabalho, em casa ou com amigos.

No mundo dos negócios, saber contar histórias é uma competência fundamental dos líderes e grandes executivos. Quem não aprecia a história de um grande empreendedor, sua trajetória de erros e acertos antes de tornar-se uma figura lendária? Ou mesmo a história de sucesso de uma grande empresa contando suas dificuldades até chegar à definição da visão e missão dos dias de hoje. Histórias bem contadas podem fortalecer os laços entre empresa, clientes e funcionários.

 

Um caso típico que foi contado num treinamento na Disney foi quando Walt Disney, no meio da depressão econômica americana dos anos 30, chamou seu irmão Roy e os poucos funcionários para contar uma história inédita: Branca de Neve e os Sete Anões. Ele reuniu todos no final do expediente e contou, nos mínimos detalhes, por mais de 3 horas, como ele havia idealizado o roteiro, os personagens, as paisagens e as músicas dessa história que se tornou o primeiro filme longa metragem animado, sonoro e em cores do cinema, cujo sucesso de bilheteria rendeu, na época, fundos para um novo estúdio Disney.

A arte de contar histórias tem a habilidade de ativar diversas áreas do nosso cérebro, tendo como exemplos o processamento cognitivo da linguagem, a memória, nossas experiências, emoções e imaginação, além das sensações visuais, auditivas e motoras. Através dos gestos e expressões a história chama nossa atenção de uma forma seletiva, impactando homens, mulheres, crianças ou idosos.

Um fato intrigante é que nosso cérebro não é capaz de distinguir uma história verdadeira de uma fantasia ou mentira.
 Um exemplo é quando assistimos filmes de aventura, drama ou terror: o quanto nos empolgamos, nos emocionamos ou nos assustamos, mesmo sabendo que não são reais?

A Neurociência explica que nosso cérebro, ao entrar em contato com uma narrativa, torna-se um participante do filme, vivendo as ações e emoções. Passamos a viver aquela situação e podemos até mudar nosso comportamento imitando um personagem com o qual nos identificamos.

Pois é, contar histórias pode mudar nossas crenças e valores, nossos pensamentos e nosso jeito de viver. Sugiro aprendermos melhor essa arte! Até nosso próximo encontro e participem conosco com seus comentários e curtidas.


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Sobre o autor

José Helio Contador Filho

Engenheiro Politécnico/USP com especializações nacionais e internacionais, pós-graduado em Musicoterapia Organizacional e Hospitalar. Formado como Conselheiro de Administração pelo IBGC/SP, Coach internacional pelo ICI/SP e Technician em Neurobusiness pelo Instituto Brasileiro de Neurobusiness.

35 anos de experiência (nacional e internacional) como executivo na Siemens Brasil/Alemanha, Ford Brasil, Presidente para a América do Sul da Visteon Sistemas Automotivos e CEO do GRAACC Hospital de Câncer Infantil, incluindo vivência como conselheiro de diversas instituições nacionais.

Atual Sócio-diretor da HCont Consultoria, Coaching e Neurotreinamentos de Alta Performance. Palestrante, autor de livros e artigos, além de presidente voluntário das instituições filantrópicas Instituto Cândido de Desenvolvimento Social e O Semeador Instituto de Desenvolvimento Humanitário e Assistência Social.

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