Espiritualidade

Sufismo: o contato com Deus e o autoconhecimento

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Escrito por Eu Sem Fronteiras

Quando pensamos no Islã e em suas crenças religiosas, fazemos uma associação direta ao que a mídia costuma apresentar, que se resume em mostrar os atos de alguns grupos mais radicais do momento, fazendo com que nós tenhamos pré-concepções rasas sobre o assunto e, por causa disso, infelizmente, nós ficamos incapazes de captar a diversidade que existe nesse espectro.

Por exemplo, você sabia que a partir do islamismo surgiu uma linha mística e mais filosófica que se conecta a Deus por meio da meditação, da música e da leitura dos textos do Alcorão? Estamos falando do sufismo, uma religião que se fortaleceu no Oriente Médio no século VIII e que se popularizou no Ocidente moderno.

O que é o sufismo?

A história do sufismo remonta ao início do século VIII, quando se iniciou como um movimento reformista em resposta ao materialismo e à riqueza da sociedade muçulmana, que acompanharam a expansão do poder do império islâmico.

A primeira fase do movimento que gerou o sufismo se iniciou com o Shaykh Hasan al-Barsi e seu círculo de seguidores.

Ao longo da história inúmeras pessoas se tornaram importantes como disseminadoras do sufismo, como a Rabia de Baçorá, santa do século VIII, Haçane de Baçorá, Junaide de Bagdá, Bajazeto de Bastam e Dulnune do Egito, o místico Almançor Alhalaje, martirizado em Bagdá no século X, por dizer, em estado de êxtase, “Eu sou a Verdade”, entre muitos outros.

Atualmente, o sufismo se destaca em toda a geografia islâmica e pode ser encontrado em correntes tanto sunitas quanto xiitas e, para ambas, o sufismo é o caminho espiritual e místico do Islã que visa levar seus seguidores em direção ao conhecimento divino.

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Para alguns historiadores, a palavra sufismo pode ser derivada do termo árabe “suf”, que significa lã. Tradicionalmente, os adeptos do sufismo costumavam vestir apenas lã pura, pois essa era a forma de demonstrarem sua negação aos confortos mundanos. Outros historiadores acreditam que sufismo significa pureza, por se originar de outro termo árabe, “safa”.

De acordo com Annemarie Schimmel, o sufismo representa “dimensão mística do Islã”, pois seus praticantes, conhecidos como “sufis”, procuram desenvolver uma relação direta e contínua com Deus com as práticas espirituais transmitidas pelo profeta Maomé.

Contudo, o sufismo é uma filosofia que prega o autoconhecimento e o contato com o divino por meio de algumas práticas. Os sufis acreditam que Deus é amoroso e que o homem pode ter contato com ele por uma união mística, independentemente da religião, e esse pensamento fez com que os adeptos ao sufismo fossem, muitas vezes, acusados de blasfêmia e perseguidos.

Qual é a filosofia do sufismo?

Desde os primórdios do Islã, os seguidores de Maomé acreditavam que a vida mundana só teria valor se viesse acompanhada de um sentido interno, de um desejo de obedecer a Deus e seus mandamentos. Esse desejo de pureza guiou as pessoas a buscarem uma forma de relação com Deus que passasse pelo amor e pela purificação do coração e isso foi o que deu origem ao sufismo mais tarde.

Tariqa (caminho), é o termo usado para nomear as ordens sufis, porque elas são consideradas o meio pelo qual as pessoas serão conduzidas pelos mestres ao encontro de Allah (Deus). Em um de seus discursos à comunidade sufi que dirigia, Imam an-Nawawi deu cinco especificações do caminho que seus seguidores devem seguir: manter a presença de Allah em vosso coração, em público e em privado; seguir a Sunnah do Profeta (Paz e Bênção sobre ele) por ações e palavras; manter-se distante da dependência de alguém; alegrar-se com o que Allah lhe deu, mesmo que seja pouco; sempre referir seus assuntos a Allah, todo-poderoso e exaltado.

Essa filosofia é muito profunda e somente um estudo extenso sobre ela poderia sanar todas as dúvidas em relação ao conhecimento praticado e compartilhado pelo sufismo, mas resumidamente, o sufismo busca a conexão pura, direta e sincera com Deus e talvez seja por isso que ele esteja tão bem difundido no mundo inteiro, inclusive em nosso país. O sufismo no Brasil alcança cada vez mais pessoas, que encontram na filosofia um contato mais verdadeiro com o divino, saindo do modo automático ao qual muitos estão acostumados.

Quais são as diferenças entre o sufismo e o islamismo?

Embora ambas usem o Alcorão como base de inspiração, há algumas diferenças entre o sufismo e o islamismo. Entre elas está a meditação e o uso de música para o contato com Deus, já que o islamismo acredita que os instrumentos musicais estão ligados ao demônio.

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Além disso, normalmente os sufis pedem a intercessão do profeta Maomé e de seus mestres ou de outros seres humanos considerados especiais. Já no Islã, pedir algo a Allah por meio da intercessão de outra pessoa, seja viva, seja morta, é algo proibido.

O sufismo também acredita em santidades. Os Shuyukh (mestres) são considerados homem santos, dotados de poderes e, por isso, são alvos de devoção. Para o islamismo não há conceito de santidade. Nem mesmo o profeta Maomé é considerado santo.

Como o sufismo pode nos ajudar a falar com Deus?

Conforme vimos até aqui, o sufismo é uma prática religiosa filosófica que defende que o homem e Deus podem se aproximar por meio de algumas práticas. Diferentemente de outras religiões que enxergam Deus como algo inalcançável e imensurável para os humanos, os sufis creem que um estado mental elevado pode nos aproximar do contato com Deus.

Portanto usar algumas práticas do sufismo, como meditar, recitar os textos sagrados ou usar a música para elevar a consciência, pode nos ajudar a falar com Deus.

Como o sufismo nos auxilia no processo de autoconhecimento?

A meditação, uma prática importante para o sufismo, também é uma das ferramentas mais importantes para o autoconhecimento e somente isso já mostra o quanto essa filosofia pode auxiliar em nosso processo.

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Além disso, segundo Eduardo Carvalho em seu blog pessoal, “o Sufismo não faz jogos mentais, é prático! Por isso, além dos ensinamentos, são oferecidos exercícios que permitem mergulhos profundos no interior, práticas que, de forma lenta e segura, levam ao autoconhecimento, que é o outro nome para Deus. Em suas reuniões, partilham seus sentimentos e suas percepções. Com isso sempre saem enriquecidos, já que, além do entendimento próprio, ouvem o ‘sentir’ dos demais e, a cada sentimento colocado, ampliam e aprofundam o seu”.

Quais são as práticas espirituais do sufismo?

A meditação, a música e a conexão direta com Deus são as práticas que predominam no sufismo. Por isso zikr é a principal prática espiritual para essa filosofia.

Zikr significa “a lembrança de Deus”. Durante a meditação, os sufis utilizam instrumentos musicais e entonam os diferentes nomes de Deus de maneira ritmada, e isso os eleva a um estado de transe, o que os aproxima de Deus.

Essa filosofia remonta a tempos antigos e carrega muita profundidade e muito conhecimento consigo. Por isso seria impossível defini-la em poucas palavras ou em um breve artigo. Se você tem interesse em se aprofundar no sufismo, sugerimos algumas bibliografias para dar início aos seus estudos. Porém o pouco que compartilhamos aqui já revela o quanto o Islã não é feito somente daquilo que a mídia mostra e que, em essência, as religiões islâmicas também visam ao amor e ao crescimento pessoal.

Bibliografia:

O sufismo como dimensão mística do Islã: http://periodicos.pucminas.br/index.php/horizonte/article/view/528/555

A Mística Islâmica em Terras Brasilis: o Sufismo e as Ordens Sufis em São Paulo: https://sapientia.pucsp.br/bitstream/handle/1871/1/Mario%20Alves%20da%20Silva%20Filho.pdf

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