Saúde Integral

TDAH em adultos: como se manifesta?

Homem branco com as mãos nas têmporas e auréolas brancas ao redor da cabeça.
Ion Chiosea / 123rf
Escrito por Eu Sem Fronteiras

O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) ou Distúrbio do Déficit de Atenção (DDA) é um transtorno neurobiológico, de origem genética. Trata-se de uma desordem psiquiátrica originada por pequenas alterações na região frontal e as suas conexões com as outras regiões do cérebro, setor responsável pela inibição do comportamento e da atenção. Reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), atinge entre 3 a 5% das crianças em idade escolar e aproximadamente 60% delas permanecerão com o transtorno quando adultos. Durante a infância, a maior incidência é no sexo masculino, porém, na idade adulta existe um equilíbrio.

Não há controvérsias sobre a existência do transtorno, porém, muita gente crê que o TDAH não existe, sendo uma mera invenção da indústria farmacêutica, a fim de obter lucros.

As causas do TDAH ainda são desconhecidas, porém, pesquisa americana realizada pelo Centro de Genética Aplicada do Hospital da Criança da Filadélfia, descobriu uma falha genética no cérebro dos portadores do transtorno. O estudo publicado na versão digital do periódico Nature Genetics é um relevante passo rumo ao desenvolvimento de remédios que possam tratar essas falhas. Segundo Hakon Hakonarson, coordenador do estudo e diretor do Centro de Genética Aplicada do Hospital da Criança da Filadélfia, 10% dos pacientes pesquisados apresentam tais alterações. Hakonarson destaca ainda que os genes descobertos atingem o sistema de neurotransmissores cerebrais implicados no TDAH.

Os cientistas selecionaram 1000 crianças. Analisaram o genoma delas e compararam com os genomas de 4100 crianças sem o transtorno. O objetivo era procurar variações no número de número de cópia (CNVs), que são deleções, ou duplicações de sequência de DNA. Foram identificados quatro genes com uma quantidade significativa de CNVs em crianças com TDAH. Esses genes pertencem à família de genes receptores de glutamato, cujo resultado mais forte é no gene GMR5. O glutamato é um neurotransmissor, proteína que envia sinais entre os neurônios. “Membros da família de genes GMR, juntamente com os genes com que interagem, afetam a transmissão nervosa, a formação de neurônios e as interconexões no cérebro. Então, o fato de que crianças com TDAH são mais suscetíveis a terem alterações nesses genes reforçam as evidências de que o GMR é importante no TDAH”, esclarece Hakonarson.

Outros fatores relacionados ao TDAH

Segundo a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), algumas pesquisas relacionam mães alcoólatras e filhos com problemas de desatenção e hiperatividade. Mas, ainda de acordo com a instituição, as pesquisas não apresentam relação de causa e efeito. A ABDA aponta estudos que associam mulheres com problemas no parto e filhos com TDAH, mas, a relação de causa também não é clara.

Diagnóstico

Mulher branca sentada no chão com pernas levantadas e braços no rosto.
Priscilla Du Preez / Unsplash

O ponto de partida para o diagnóstico é um questionário chamado ASRS-18. Desenvolvido por pesquisadores em colaboração com a Organização Mundial de Saúde analisa possíveis sintomas primários do transtorno. O diagnóstico só poderá ser confirmado após entrevista com um psiquiatra ou neurologista. O questionário é dividido em duas partes, ambas com nove perguntas cada. Confira as perguntas:

Parte A

  1. Com que frequência você comete erros por falta de atenção quando tem de trabalhar num projeto chato ou difícil?
  2. Com que frequência você tem dificuldade para manter a atenção quando está fazendo um trabalho chato ou repetitivo?          
  3. Com que frequência você tem dificuldade para se concentrar no que as pessoas dizem, mesmo quando elas estão falando diretamente com você?          
  4. Com que frequência você deixa um projeto pela metade depois de já ter feito as partes mais difíceis?        
  5. Com que frequência você tem dificuldade para fazer um trabalho que exige organização?        
  6. Quando você precisa fazer algo que exige muita concentração, com que frequência você evita ou adia o início?    
  7. Com que frequência você coloca as coisas fora do lugar ou tem de dificuldade de encontrar as coisas em casa ou no trabalho?          
  8. Com que frequência você se distrai com atividades ou barulho a sua volta?      
  9. Com que frequência você tem dificuldade para lembrar-se de compromissos ou obrigações?

Parte B

  1. Com que frequência você fica se mexendo na cadeira ou balançando as mãos ou os pés quando precisa ficar sentado (a) por muito tempo?          
  2. Com que frequência você se levanta da cadeira em reuniões ou em outras situações onde deveria ficar sentado (a)?          
  3. Com que frequência você se sente inquieto (a) ou agitado (a)?          
  4. Com que freqüência você tem dificuldade para sossegar e relaxar quando tem tempo livre para você?        
  5. Com que frequência você se sente ativo (a) demais e necessitando a fazer coisas, como se estivesse “com um motor ligado”?          
  6. Com que frequência você se pega falando demais em situações sociais?          
  7. Quando você está conversando, com que frequência você se pega terminando as frases das pessoas antes delas?
  8. Com que frequência você tem dificuldade para esperar nas situações onde cada um tem a sua vez?       
  9. Com que frequência você interrompe os outros quando eles estão ocupados?

Urinar na cama, baixo desempenho escolar associado à falta de atenção, problemas de relacionamento com colegas, são elementos que precisam ser levados em consideração no diagnóstico em adultos. Não estão descartados exames físicos, a fim de descartar a possibilidade de distúrbios clínicos ou neurológicos, Testes neuropsicológicos (ex: atenção, inteligência) e ressonância magnética específica.

Sintomas

Jovem branca balançando a cabeça, com cabelo no rosto.
Hailey Reed / Unsplash

Atrasos frequentes: adultos têm enorme dificuldade para cumprir horários e compromissos. No ambiente de trabalho, eles adiam tarefas que consideram desinteressantes ou desagradáveis, atrapalhado sua produtividade, consequentemente da equipe, relata a psicoterapeuta Evelyn Vinocur;

Falta de organização: os portadores de TDAH começam uma tarefa antes de terminar a primeira. A dificuldade em estabelecer prioridades traz a sensação de faltar tempo;

Depressão e estresse: nos adultos, esses sintomas estão ligadas a uma rotina de trabalho muito agitada. A depressão vem pela incapacidade de cumprir tarefas e pela impressão negativa que passa aos colegas. Essa frustração manifesta-se fisicamente, através de dores de cabeça e nos músculos das costas, afirma a psicóloga Adriana Araújo;

Problemas ao dirigir: adultos com TDAH têm dificuldades para se concentrar. Dirigir é uma tarefa difícil, porque o rádio e o celular tiram a atenção. Pessoas com déficit de atenção não precisam parar de dirigir, mas, devem consultar um psiquiatra, a fim de obterem orientações de como agir.

Dificuldade de comunicação: a dificuldade de concentração faz com que as pessoas portadoras de TDAH tenham receio de acompanhar e participar de uma conversa. Por isso, eles interrompem os outros, fazem comentários inoportunos e falam muito alto;

Dificuldade em manter relacionamentos: as alterações de humor e dificuldade em seguir regras atrapalham o convívio. Segundo a psicoterapeuta Evelyn Vinocur, os portadores de TDAH são mandões e não conseguem cumprir acordos. A Associação Brasileira de Déficit de Atenção relata que 25% dos adultos com TDAH podem ter sérios problemas de conduta antissocial, trazendo aos pacientes solidão e isolamento, território fértil para a depressão.

Comportamento

Homem branco de cabelos curtos e expressão neutra.
where is pykh / Unsplash

De acordo com a psicoterapeuta Evelyn Vinocur, especialista do Minha Vida e membro da Associação Brasileira de Déficit de Atenção, o TDAH é um quadro crônico de desatenção, hiperatividade e impulsividade. Aproximadamente 30% dos homens portadores de TDAH são imaturos e sensíveis. Muitas vezes agem de forma infantil, a tal ponto que o parceiro tem a sensação de estar lidando com um filho, e não com um homem. Ainda é observado um comportamento agressivo. Os homens com o transtorno de déficit de atenção, algumas vezes não conseguem controlar a raiva e agem desproporcionalmente à situação.

Indivíduos com TDAH tendem a perderem o interesse pela rotina, o que propicia a vontade de procurar atividades e pessoas mais estimulantes.  Esse tédio sexual sentido pelos portadores do transtorno é uma das causas das altas taxas de divórcio em casais onde um dos parceiros tem o TDAH. O transtorno origina problemas de autoestima, pois, o individuo não consegue desempenhar suas atividades profissionais de maneira satisfatória, e a dificuldade em estabelecer intimidade faz com que os portadores isolem-se de amigos, parentes e parceiros amorosos.

Tratamento

Ao contrário do que dizem, os medicamentos para o tratamento do TDAH não entorpecem, não deixam os pacientes não ficam iguais a “zumbis”. Existem várias opções de remédios para tratar o transtorno com ou sem hiperatividade, com sólidas evidências de eficácia. Os psicoestimulantes costumam ser a primeira escolha no tratamento. Segundo o National Institute of Health (NIH), já foram feitas mais de 170 pesquisas, realizadas com mais de 6000 pacientes e 70% deles responderam positivamente usando apenas um estimulante, resultado altamente satisfatório. Os psicoestimulantes, além dos sintomas clássicos de Transtorno do Déficit de Atenção com ou sem Hiperatividade (desatenção, impulsividade e hiperatividade), também atuam nos quadros de ansiedade, depressão, explosões de raiva e comportamento impulsivo.

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Dentre os psicoestimulantes usados no tratamento do TDAH estão o Metilfenidato (Ritalina ou Concerta),  Pemoline (Cylert), e as anfetaminas (Dexedrine, Adderall) não são disponíveis no Brasil. Em algumas situações o modafinil (Stavigile) poderá ser usado.

Convivendo com TDAH

Embora seja um transtorno que atrapalhe a vida social e profissional, com remédios e a aplicação de algumas medidas, o portador de TDAH pode ter mais qualidade de vida. Vejam quais medidas adotar para cada sintoma:

Estresse e alteração de humor

  • Dormir: dormir mal acentua os sintomas do TDAH. Não tome cafeína antes de dormir e evite atividades físicas uma hora antes de ir dormir;
  • Alimentação correta: pequenas porções ao longo do dia, pouco açúcar, menos carboidratos e mais proteínas auxiliam na redução dos sintomas;
  • Atividade física: alivia o estresse, acalma a mente, melhora o humor, além de gastar o acúmulo de energia;

Falta de organização

  • Tenha uma agenda: anote seus horários e compromissos. Organize a rotina do dia seguinte à noite;
  • Faça listas: use post-it (blocos de anotações autocolantes) para ajudar na organização dos seus afazeres. Cole-os no computador;
  • Sistemas de arquivamento: use pastas com divisórias para arquivar seus documentos (receitas, contas, fichas de inscrição, etc.);
  • Estabelecer horários: estabeleça horários para suas atividades. Dedicar alguns minutos para ler e responder e-mails evita acessar sua conta a cada cinco minutos.

Administrando o tempo

  • Relógio: de pulso, do celular ou computador, o importante é estar sempre à vista. Toda vez que começar uma atividade, anote o horário;
  • Chegue mais cedo: anote os horários de seus compromissos com 15 minutos de antecedência. Por exemplo, se uma consulta é as 11 da manhã, anote na agenda que é às 10:30;
  • Uma coisa de cada vez: se estiver em um projeto grande, divida-o em várias partes;
  • Falar não: a impulsividade faz o adulto com TDAH aceitar várias atividades ao mesmo tempo e não terminar nenhum. Antes de aceitar qualquer tarefa, verifique em sua agenda se há tempo para ela.
Pílulas brancas e laranjas.
Christina Victoria Craft / Unsplash

Nenhum sintoma apresentado aqui, mesmo isoladamente pode ser ignorado. Caso perceba um comportamento semelhante aos relatados nesse artigo, leve seu familiar ou amigo em um psicólogo ou psiquiatra. Com uma avaliação rigorosa, administração de medicamentos, sessões de psicoterapia e apoio familiar, o adulto portador do déficit de atenção consegue superar as limitações impostas pela agressividade, crises de ansiedade, dificuldades de comunicação, entre tantas outras responsáveis pela queda de produtividade profissional e falta de qualidade nos relacionamentos com família, amigos e parceiros amorosos.

Também é papel do psicólogo ou psiquiatra orientar a família. A compreensão de pais e irmãos sobre o transtorno ajudam quem sofre com o TDAH a mudar hábitos. Um adulto com déficit de atenção será mais eficaz na tarefa de aprender a administrar o tempo, estabelecer prioridades, dizer não e controlar sua impulsividade com o apoio de seus familiares.

Confira o que você, pai, mãe ou irmão podem fazer efetivamente para a superação do TDAH:
  • Conversar;
  • Reforçar as qualidades, elogiar sempre;
  • Em vez de cobrar resultados, cobrar empenho;
  • Estabelecer limites e lembrar dele sempre;
  • Fale de frente, o contato olho no olho é importantíssimo, pois, transmite segurança;
  • Advertir o comportamento inadequado, apontando qual é o correto e por que;
  • Programar atividades fora de casa. Passear no parque, ir ao cinema;
  • Estimular a recuperar e fazer amizades;
  • Estimular independência;
  • Estabeleça junto com o portador períodos de descanso entre as atividades profissionais e/ou escolares.

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