“O que se tornou perfeito, inteiramente maduro, quer morrer” – Nietzsche
Muitas pessoas ao procurarem a Terapia de Regressão confessam sentir muita ansiedade pela possibilidade de, durante uma sessão, encararem o momento da própria morte em vidas anteriores.
Isto é perfeitamente compreensível, pois se trata de uma questão que aflige a humanidade desde os seus primórdios. A crença da imortalidade, na vida após a morte, simboliza a recusa da própria destruição e o anseio de eternidade.
A morte é o clímax de um processo que se inicia já no nascimento, que é a primeira separação de um ambiente conhecido e o enfrentamento de um novo ambiente. A oposição entre o velho e o novo é repetida indefinidamente a partir desta primeira ruptura e explica a angústia do ser humano diante de seu próprio dilaceramento interno: ao mesmo tempo em que anseia pelo novo, teme abandonar o conforto e a segurança da estrutura antiga a que já se habituou.
Os heróis, os santos, os artistas e os revolucionários são os que enfrentam o desafio da morte, pois são capazes de construir uma nova ordem a partir da superação da velha ordem.
Nos dias atuais, com a crescente urbanização, o sentido da morte já não é o mesmo de alguns anos atrás. Os laços comunitários foram destruídos, fragmentando os indivíduos em núcleos cada vez menores e instaurando um extremo individualismo. Hoje, com o ritmo cada vez mais acelerado, ninguém tem tempo para os doentes e velhos. Estes são assistidos nos hospitais, com o auxílio de técnicas avançadas e profissionais eficientes, porém longe de suas famílias – o que não ocorria no passado.
Antigamente, o tema proibido era o nascimento; ocultava-se das crianças o que hoje é falado sem mistérios. Porém, hoje a morte é tratada como um tabu. As crianças são afastadas dos moribundos e até mesmo dos velórios; e as explicações sobre a ausência de entes queridos é camuflada para não “traumatizá-las”, sendo comuns as referências a uma “longa viagem”, ou a um “descanso em um lindo jardim”, etc.
Talvez estas tentativas em escamotear a morte ocorrem pela incapacidade em lidar com a própria vida. As pessoas, cada vez mais massacradas pelo ritmo vertiginoso, pela competição desenfreada e realizando funções nas quais não sentem nenhum prazer, se acham muito distantes daquilo que podaríamos considerar uma boa qualidade de vida. Independentemente do progresso técnico atingido, são altos os níveis de alienação humana no trabalho, no consumo, no lazer. A morte é banalizada, falemos dela como um acontecimento longínquo, tranquilizando nossas consciências e nos recusando a refletir nela, a fim de afastar a angústia de não termos respostas claras e definitivas.
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É preciso resgatar, no mundo atual, a consciência da morte, não como um assunto mórbido, mas para recolocar em primeiro plano na nossa vida certos valores que não damos importância, questionando-nos sobre a autenticidade de nossa existência.
Em artigos futuros, espero poder discorrer um pouco mais sobre este tema tão importante, e tão temido e ignorado.
Leia todos os artigos da série Terapia de Regressão.
Fonte: “Filosofando” – Ma. Lucia A. Aranha e Ma. Helena P. Martins – Editora Moderna, São Paulo, 1988