No artigo anterior, refletimos sobre como a angústia da morte é vivenciada pelos seres humanos, bem como ela é encarada atualmente. Vamos analisar agora como o sentido da morte surgiu nas sociedades tribais.
Observando a história da humanidade, verificamos que a morte não traz grandes problemas para as sociedades tribais. A existência de ritos funerários é comprovada desde o homem de Neandertal, há 600 séculos.
No Iraque, descobriram-se esqueletos repousando no meio de uma camada de cascalho e a análise do pólen ali encontrado comprovou que um dos falecidos tinha sido colocado sobre uma camada de flores!
Há evidências de uma cerimônia de enterro datada de pelo menos 300.000 anos em Atapuerca, na Espanha, com a presença de ferramentas junto aos corpos.
O mais antigo ritual de enterro de seres humanos modernos, há cerca de 100.000 anos, é originário de Qafzeh, em Israel. Há duas cerimônias do que se supõe serem uma mãe e uma criança; os ossos foram manchados com ocre vermelho (pigmento corante).
Entre 100.000 a 50.000 a. C. há um aumento do uso do ocre vermelho em vários sítios arqueológicos da Idade da Pedra, e uma abundância de fósseis incluindo cerimônias elaboradas de enterro de mortos; o ocre vermelho simbolizava o sangue, o líquido vital.
No Lago Mungo, Austrália, há restos de cerimônias rituais datadas de 42.000 anos. O corpo aparece respingado por grande quantidade de ocre vermelho. Para alguns estudiosos, é considerado como uma evidência de que o povo australiano importou os rituais que eram praticados na África.
O mais recente registro da cerimônia de enterro de um xamã data de 30.000 anos atrás.
No período Magdaleniano (entre 17 mil e 11 mil anos atrás), quando começam a surgir as pinturas nas cavernas, algumas jovens foram enterradas com olhos postiços e placas de vértebras de animais, com a intenção de dar-lhes uma aparência viva.
No começo do Neolítico (10.000 a 3.000 anos a. C.) surge o cemitério com os objetos funerários (facas, vasos, flechas, machados e raspadeiras). O ser humano gradualmente abandona a vida nômade, se estabelecendo em locais fixos, desenvolvendo técnicas de cultivo agrícola, o que é considerado uma verdadeira revolução na evolução humana.
Pelo menos a partir de 4.000 anos começam a desenvolverem-se os monumentos megalíticos como os menires, dolmens e cromeleques (agrupamentos de vários menires em linha ou círculo). As pessoas já acreditavam na influência de fenômenos naturais e sobrenaturais que influenciavam as colheitas.
A morte não é enfocada do ponto de vista do desaparecimento de um indivíduo, mas está integrada à prática coletiva do culto aos mortos e aos antepassados. Os ritos fúnebres nestas sociedades estão ligados à evolução do sentimento religioso. O ritual fúnebre é estruturado para que o desejo de imortalidade se adaptasse à realidade. A relação com o falecido é teatralizada, homenageando-o e honrando-o como se não houvesse morrido.
Os seres humanos nas sociedades tribais estavam de tal modo envolvidos em suas comunidades que o seu ser não era centrado em si mesmo (isto é, o sentido de sua existência não residia no indivíduo); ao contrário, o homem encontrava seu sentido por meio da participação no todo coletivo.
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Como a individualidade se encontrava envolvida pela totalidade maior da comunidade, a morte não é percebida como dissolução, mas apenas como o assumir uma forma diferente da existência; o morto muda de estado e passa a pertencer à comunidade dos mortos.
Para isso, torna-se necessária a realização de rituais de passagem adequados à ocasião. Não há nenhuma ideia de aniquilamento e os mortos podem retornar ao mundo dos vivos durante o sono destes e nas aparições.
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