Atualmente, a definição de morte continua problemática, pois a identificação do momento exato varia. Antes, considerava-se que alguém morria quando o coração e a respiração cessavam; porém, com o desenvolvimento da ressuscitação cardiopulmonar e da desfibrilação, surgiu um grande dilema acerca dessa definição.
Atualmente, a definição médica de morte é conhecida como morte clínica, morte cerebral ou parada cardíaca irreversível. Por causa das dificuldades na definição de morte, faz-se necessária mais de uma confirmação, fornecida por médicos diferentes.
Alguns pesquisadores estudam as chamadas “experiências de quase-morte” (EQM), considerando que o conceito de “vida” se associe ao de “consciência” — isto é, a consciência é entendida como não sendo atrelada à matéria física.
Nesse campo, existem três hipóteses:
- A consciência existe unicamente como resultado de correlações materiais e a vida cessa no momento da morte;
- A consciência não tem origem física e apenas usa o corpo para se expressar;
- A consciência tem uma origem física e está atrelada ao cérebro, mas se distingue dos pensamentos. Alguns pesquisadores afirmam que a consciência está relacionada com algum tipo de matéria imponderável que, embora se relacione à matéria ordinária, não se decompõe.
A ciência aceita a primeira hipótese acima e não confirma a ideia de vida após a morte, pois considera que não é um assunto que possa resolver por falta de evidências que corroborem a existência de espírito, alma ou algo similar que sobreviva após o falecimento.
Continuamos hoje a esperar uma confirmação (ou não) da ciência sobre a continuidade da consciência após a morte. Porém, as crenças e religiões que confortavam nossos antepassados ainda hoje têm destaque.
Essa busca por uma consolação frente à realidade da extinção é um fenômeno compreensível; afinal, a morte atinge a todos, sem distinção.
A angústia de não saber com certeza o que acontecerá — ou o medo de possíveis punições na eternidade — impele o ser humano a se afastar de qualquer reflexão sobre o assunto. A tecnologia pode ter avançado, mas o medo primordial da morte ainda nos assombra. A morte tornou-se hoje um tabu.
Para o homem ocidental atual, a morte passou a ser percebida como fracasso, impotência e vergonha. Tenta-se vencê-la a qualquer custo e, quando tal êxito não é alcançado, ela é camuflada e negada, procurando-se fugir de elementos que são dolorosos.
A vida moderna impede o convívio com os mais velhos, os quais são geralmente colocados à margem do sistema produtivo. Pela primeira vez na história da humanidade, os mais jovens são os que detêm o conhecimento — sendo este baseado nas novas tecnologias, cujo domínio pertence quase exclusivamente às novas gerações, muitas vezes excluindo os mais velhos.
A juventude é glorificada, gerando mais angústia nas pessoas à medida que o tempo passa inexoravelmente, lançando muitas pessoas numa busca de uma eterna primavera, saudável e vigorosa, negando o inevitável. A certeza da morte traz mais angústia e é escamoteada, numa teimosa recusa para encará-la como um fato da vida.
Os funerais modernos, quando não são despachados rapidamente, procedem muitas vezes de um formalismo vazio de conteúdo. É uma tentativa de não entrar em contato com a própria finitude e vivenciar o sentimento de dor e de sofrimento pela perda — ou se afastar o mais rápido possível desses sentimentos.
Porém, a morte não pode ser negada nem esquecida. A morte a todos atinge e, na verdade, o processo de morrer se inicia com o nascimento. Devemos encarar sem medo aquilo que é inevitável, pois minha vontade não pode mudar o que é fato. Devemos reconhecer que, sem a morte, a vida seria incompleta e insuportável. Como afirmou o escritor francês André Malraux: só a morte transforma nossa vida em destino.
Só há morte porque há vida. E cada momento é precioso, pois a vida é passageira. O sentido da morte se insere no sentido da vida. Morrer faz parte da condição humana.
Para o professor e historiador Leandro Karnal: “O medo da morte é sinal de falta de conhecimento. A grande sabedoria de vida é a preparação para aquilo que vai dar sentido a tudo que eu fiz, que é morrer.”
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Ainda segundo ele: “Morrer é o que nos torna úteis e práticos. E, quando eu for esquecido, a minha vida terá atingido seu pleno patamar, porque ser esquecido significa que o papel foi cumprido e, como qualquer ser, eu desapareci. Não é melancólico e não é depressivo. Melancólico e depressivo é você querer esconder a idade ou a falência inevitável da vida.”
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