Quando tocamos no assunto terapia, logo nos vem à mente a imagem de uma pessoa deitada ou sentada em frente ao terapeuta e colocando seus problemas em pauta, em busca de uma solução ou um caminho para lidar com eles.
Muitas vezes, porém, os problemas podem estar sendo enfrentados por vários membros da família – tanto do núcleo familiar quanto entre os outros parentes. Se são questões que estão sendo vivenciadas entre todos de uma só vez, a ideia é que esse tratamento seja feito de forma coletiva. E é aí que entra a terapia familiar. Sendo assim, vamos saber um pouco mais sobre esse processo?
Tudo sobre terapia familiar
O que é terapia familiar?
A terapia familiar ou terapia familiar sistêmica é um processo conduzido por um psicólogo no atendimento conjunto de membros de uma mesma família. É sistêmica por se pautar no tratamento da coletividade dentro da família, enxergando as partes, porém com foco no todo, buscando uma solução de problemas e equilibrar a relação, trazendo uma convivência saudável e respeitosa.
É uma terapia recomendada para grupos familiares disfuncionais, ou seja, aqueles em que não existe diálogo, respeito, harmonia e o simples cumprimento do papel familiar de cada um. Em vez disso, há distanciamento, brigas e fofocas, descaso, acusações, o que resulta em “sintomas” como agressividade, ansiedade ou depressão, baixo rendimento escolar (no caso da crianças e dos adolescentes), entre outros problemas que podem se tornar uma bola de neve.
Nesse caso, não existe interação e, por consequência, não há uma busca por solução dentro do âmbito familiar. Se não há comunicação ou empatia entre os familiares “sintomáticos”, dificilmente haverá a iniciativa por resolver todos os conflitos e chegar a um ponto pacífico, até porque não há uma visão imparcial nessa procura de solução. Dessa forma, a figura do terapeuta familiar entra para desatar esses nós, esse emaranhado de emoções.
Como ela funciona?
As sessões de psicoterapia familiar são mediadas por um terapeuta, que, durante aproximadamente 50 a 60 minutos, organiza e conduz a conversa – sem interferir –, para que todos possam expressar tudo o que os incomoda.
Diferentemente da terapia convencional, em que o atendimento é individual, na terapia em família, todos os membros participam coletivamente.
É formado um círculo, em um ambiente agradável, bem iluminado, podendo também ter elementos lúdicos, para que as crianças, caso haja, sintam-se à vontade e confortáveis emocionalmente. Durante a sessão, o diálogo é a base do atendimento, e cada paciente é incentivado a ouvir o outro de forma atenciosa.
Ao fim da sessão, o terapeuta ainda pode sugerir exercícios para que os pacientes pratiquem em casa até a consulta seguinte. E, nas próximas sessões, eles são estimulados a relatar os avanços e as mudanças já operadas desde o início do tratamento.
Tipos de terapia familiar
Há vários tipos de terapia familiar, e a indicação de cada um vai depender do caso e das questões a serem tratadas. Entre elas, podemos destacar: a estrutural, a boweniana, a experiencial e a estratégica.
Cada uma dessas abordagens tem um conceito aplicado. A estrutural lida com comportamentos, analisando as relações entre os familiares; a boweniana lida com o equilíbrio e com o caminho da autodescoberta de cada um dos membros; a experiencial trabalha a autorrealização e a construção dos níveis de intimidade; e a estratégica trabalha na mudança da forma como cada familiar reage com o membro “sintomático”.
Quando fazer?
De certa forma, a procura pela terapia em família pode se dar em qualquer momento no qual um ou mais membros da família sinta essa necessidade (obviamente havendo um consenso). Nem sempre, porém, as pessoas têm essa noção de quando é preciso pedir ajuda.
Sendo assim, uma boa dica é perceber a que ponto a relação da família está fragilizada devido aos conflitos, qual o grau de ruptura decorrente de conflitos pessoais ou quando as dificuldades já se encontram em um nível profundo e quando parece que nenhuma das tentativas de solução surtiu efeitos.
Outras indicações são casos de doenças físicas ou mentais que provoquem uma disfunção familiar significante, por exemplo, esquizofrenia, transtorno bipolar, síndrome do pânico, autismo, hiperatividade, depressão, entre outros, especialmente no caso de crianças ou adolescentes.
Benefícios da terapia familiar
Existem várias razões para se buscar ajuda na psicoterapia familiar, pois as vantagens são inúmeras e agem a médio e a longo prazo, trazendo paz e equilíbrio ao núcleo familiar e a todos os outros parentes envolvidos direta ou indiretamente no problema ou mesmo não estando envolvidos.
Destacamos aqui alguns dos variados benefícios dessa técnica:
- Fortalece os laços familiares;
- Oportuniza o uso da sinceridade e da honestidade em se expressar;
- Ajuda a desenvolver a escuta ativa e a empatia;
- Permite que todos abram seus corações e se tornem mais transparentes;
- Desenvolve o espírito de equipe;
- Promove a união, por meio da realização de tarefas e da busca de soluções;
- Fomenta a busca de um lar mais harmônico e acolhedor;
- Ajuda a desapegar-se das dores do passado;
- Permite resolver sentimentos, como remorso, culpa, indiferença, desobediência etc.;
- Possibilita que as pessoas foquem o presente, já que o passado passa a não ser mais um “fantasma”;
- Auxilia os membros a buscarem viver uma vida mais leve e menos pesarosa;
- Ajuda a desenvolver o autoconhecimento e, consequentemente, o autocontrole.
Os benefícios não se limitam aos que listamos aqui, já que a terapia familiar é capaz de ajudar basicamente todo tipo de situação, pois ela impulsiona os membros a falarem de suas emoções por meio do diálogo franco e aberto. E, honestamente, isso é libertador.
Terapia familiar sistêmica é o mesmo que constelação sistêmica?
Você já deve ter ouvido o termo “sistêmica” em algum lugar, muito provavelmente numa técnica chamada “constelação sistêmica”, o que pode causar confusão quanto à expressão “terapia familiar sistêmica”. As semelhanças, entretanto, limitam-se ao termo em comum, já que são duas coisas distintas.
A terapia familiar sistêmica é uma especialização da psicologia, que teve como pioneiro o terapeuta argentino Salvador Minuchin. A terapia familiar lida diretamente com os indivíduos que compõem a família, ou seja, o tratamento é feito na presença dos familiares reais.
Já a constelação sistêmica – também conhecida por constelação familiar – é uma técnica que se vale da representação e da intepretação de papéis, ou seja, são usadas pessoas neutras para representar os membros da família que estão envolvidos no problema central em vez dos verdadeiros familiares.
Desenvolvida pelo autointitulado psicoterapeuta Bert Hellinger, a constelação sistêmica bebeu na fonte da terapia familiar, mas é outro tipo de abordagem, que não faz parte da psicologia e não tem uma comprovação científica quanto a seus efeitos. Não significa, no entanto, que ela não apresente resultados e benefícios.
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E cabe ressaltar que este artigo não tem o objetivo de emitir nenhum juízo de valor acerca das pseudociências, porém é válido ressaltar as diferenças entre as terapias sistêmicas e as constelações, já que os objetivos, os processos e os resultados são bastante distintos, cada um atendendo a uma necessidade específica. Se você desejar saber um pouco mais sobre as constelações sistêmicas, consulte nossos conteúdos sobre o tema, que o ajudarão a entender melhor sobre todas essas diferenças.
Esperamos que este artigo o tenha ajudado a entender um pouco mais sobre a psicoterapia familiar e, se você e sua família acreditam que precisam dessa força para estabelecerem um equilíbrio nas relações, não hesitem em buscar a ajuda de um profissional. Caso você conheça alguém que esteja passando por alguma situação familiar complicada, compartilhe o artigo com ela. Com certeza, será uma ótima forma de mostrar que você se preocupa!