Apesar do título deste texto, eu não vou falar sobre casais infiéis, nem de amigos desleais ou de relações de trabalho que acabam mal.
Ao menos não sob este aspecto…
Não entrarei no mérito dos motivos que levam uma pessoa a enganar a outra, seja com ações ou palavras. Nem tampouco falarei sobre a quebra de confiança entre relações com mentiras e omissões.
Sei que corro o risco de ser incômoda e de ganhar alguns desafetos com este texto, mas ainda assim, convido-os para uma breve reflexão, afinal, todos nós em algum ponto da vida somos traídos ou traidores. E digo, somos mais traidores do que traídos.
São tantas as maneiras que traímos que sequer nos damos conta disso. Traímos quando nos esquecemos de ser gentis ou quando queremos fingir que está tudo bem, quando não está. Traímo-nos, portanto, quando nos anulamos em prol de outra pessoa ou para não causar danos colaterais em alguma situação. Como já disse Nietzsche: “Quem, em prol da sua boa reputação, não se sacrificou já uma vez a si próprio?”.
Traímo-nos quando criamos expectativas, ainda que bem no fundo de nosso peito haja a ciência de que estas estão bem distantes da realidade.
Um dos significados dado à palavra trair no dicionário é: “não cumprir promessa, compromisso ou princípio”.
Desta forma, trair é uma escolha e não um acaso.
E o descumprimento de uma promessa, um compromisso ou um princípio somente nos ofende devido ao grau de expectativa que depositamos nas ações de terceiros.
Se nos sentimos traídos por alguém que optou por uma ação que mancha a nossa confiança, antes devemos refletir se já não nos havíamos traído antes.
Não digo que devemos desconfiar de todos à nossa volta, ao contrário. A confiança é uma virtude aparentada com o amor.
Digo apenas, porque nada, absolutamente nada acontece sem que haja algum indício prévio, por mais sutil que seja.
Se seu parceiro resolveu se envolver com outra pessoa e te pegou de surpresa, acredite: os sinais já estavam aí. O mesmo se seu amigo ou colega de trabalho traiu sua confiança, garanto: isso não aconteceu do dia para a noite.
Traímos a nós mesmos, aos nossos instintos e percepções sob argumentos que buscam justificar a nossa escolha por ignorá-los.
Algumas vezes o fazemos por insegurança de confirmar a suspeita, outras por medo de que o nosso enfrentamento nos revele a nossa própria responsabilidade na situação de traição, mas é certo que em diversos momentos vamos ter os nossos sinais de alerta ativados incomodamente.
Trair é uma escolha, assim como ignorar os sinais de traição também é e, por princípio, ao fazê-lo, passamos paradoxalmente para a condição de traidor, de nós mesmos.
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Embora eu defenda que perdão é uma condição individual que deve ser exercida, mesmo que as relações se percam, uma vez que perdão não é concordância, mas isenção de dívida e doação, a reflexão que espero que faça com essas palavras não é um pedido de indulto para o traidor, não é essa a reflexão.
Mas quando se sentir em uma amarga condição de traído, procure sempre que possível observar quantas vezes teve a oportunidade de evitar que a história seguisse para esse final. Essa é a reflexão!
Não é um “mea-culpa”, nem uma absolvição, mas uma reflexão de autoconhecimento para que a dolorosa situação não se repita, para que seja mais fácil lidar com as inconstâncias humanas e para que sua emoção e sua razão possam viver em equilíbrio.