Quando meu filho tinha entre oito ou nove anos, ele treinava numa escolinha de futebol perto de casa.
Na ausência da figura paterna, eu o acompanhava passo a passo nessa etapa que durou pelo menos uns oito anos de sua vida.
Onze e meia da manhã começava o treino e essa era nossa rotina aos sábados. Eu o levava, ficava assistindo, dando uns gritos na torcida com as outras mães e pais como perfeitas corujas no galho piando para as suas corujinhas.
Mas os gritos só apareciam na hora do coletivo. Antes, no treino físico, era momento para as conversas sobre assuntos diversos. Uns interessantes, outros nem tanto.
Lembro-me de um dia específico: o sol morno acariciou as corujas e aplicou uma sonolência fora do habitual, assim as conversas sobre assuntos diversos deram lugar para a observação no primeiro momento do treino.
O treinador colocou uns cones no meio do campo e as crianças tinham que correr até o primeiro, voltar de costas e correr até o segundo, colocado um pouco mais longe.
Era curioso observar a habilidade de alguns alunos (ou a falta dela em outros), no momento em que tinham que recuar, correr de volta ao ponto de partida e dar novo pique.
Como o exercício se repetiu por diversas vezes, os menos habilidosos logo pegaram o jeito e ao final dessa primeira parte tudo saiu conforme o intencionado.
No meu silêncio morno de coruja calada, pensei que é difícil mesmo voltar, andar para trás. E pensei em quantas vezes são inevitáveis essas voltas, de costas de preferência, para não perder o foco para a nova tentativa.
Quem nunca teve que voltar atrás provavelmente perdeu-se no caminho.
O que parece um retrocesso muitas vezes é o processo que impulsiona a chegada ao objetivo desejado, num segundo pique. Não temos mesmo como saber se a primeira tentativa vai dar certo, e algumas vezes não dá.
Tudo é treino!
Uma frase curta e certeira, uma verdade para tudo e para todos.
Pensei longamente sobre isso e essa observação me serviu em tantas situações ao longo da vida. Naquele dia, eu jamais imaginaria isso, enquanto esses pensamentos passavam por minha cabeça coruja e eu (es)piava minha corujinha.
Voltar atrás e dar um novo pique na vida também são treinos.
Contrariados, esgotados, cansados, esperançosos e depois determinados.
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Voltar e correr, voltar e correr, voltar e correr e enfim chegar…
Tudo é treino.