Convivendo Trabalhos Sociais e Voluntários

Um grupo de troca e acolhimento

Escrito por Eu Sem Fronteiras

Co.madre : como lidar com carreira e maternidade?

Muitas mulheres, depois que se tornam mães, sentem uma dificuldade de conciliar o mercado de trabalho e os filhos. E nessa nova busca e jornada, ou ainda reinvenção, parece que até se sentem sozinhas, mas há três anos nasceu o grupo Co.madre (http://comadre.me/), em que mulheres se ajudem e se acolhem, além de trocarem experiências. Nós conversamos com a Juliana Mariz, que nos falou um pouquinho mais a respeito deste trabalho. Confira a entrevista:

– Poderia me falar um pouco sobre você e sobre quem toca o projeto ao seu lado?

Sou Juliana Mariz, jornalista. Trabalhava no jornal Valor Econômico quando, em 2010, pedi demissão para ser freelancer. A decisão foi bastante influenciada pelo nascimento da minha primeira filha, em 2009. Sou mãe da Maria Clara, de sete anos, e da Elisa, de quatro anos.

A Fernanda Mariz é minha irmã e sócia no Co.madre. Ela é nutricionista especializada em gestantes e bebês com problemas para se alimentar (como alergia ao leite). Ela é mãe da Ana Luiza, de cinco anos.

– Como surgiu o Co.madre?

O Co.madre nasceu no Facebook, há uns três anos, por causa de uma inquietação pessoal minha, Juliana. Me tornei mãe e vi como era complicado lidar com carreira e maternidade. Senti uma solidariedade imensa por essas mulheres que tinham de equilibrar tudo. Algo estava fora de ordem, pensei.

De lá pra cá, o grupo no Face já tem 800 membros e vem tomando formas e contornos de acordo com nossas inquietações e das demandas dos membros. A intenção é acolher essas mulheres promovendo encontros presenciais de capacitação ou mesmo um bate-papo sobre algum tema que achamos importante. Trocamos muito conteúdo e estimulamos a troca e a concretização de negócios entre elas. No final de 2015, fizemos nosso primeiro bazar com comadres e seus produtos. Em 2016, produzimos 17 encontros, de palestra para aprender a fazer uma newsletter a encontro para aprender a fazer um cesto de malha.

– Como funciona a questão da consultoria coletiva?

A Consultoria Coletiva é nossa menina dos olhos. Surgiu de uma ideia simples, mas tornou-se o nosso primeiro “serviço”. Uma comadre nos conta um desafio específico de seu negócio. Juntamos outras comadres com expertises variadas e fazemos um brainstorming para ajudá-la. É muito bacana. Demonstra a generosidade feminina em um grau máximo. A gente sempre sai emocionada. Já fizemos com duas irmãs que tinham uma loja de bolo, com sócias de um site infantil, com uma comadre que organiza picnics, com outra que estava criando um novo negócio… 🙂 A sensação que tenho é que a comadre sai do encontro com caminhos, ideias e sugestões para tomar decisões mais acertadas.

– Vocês também trabalham com palestras e workshops. Como é e ocorre em todo o país?

Não. Só acontece aqui em São Paulo mesmo. Quem sabe um dia, né? A gente vai pensando nos interesses que surgem, bolando conteúdo que achamos que pode ajudar as comadres. Alguns temas que rolaram:

2014: administração do tempo, Instagram, estilo e mudanças pós-maternidade;

2015: palestra com Karina Arruda – 15 razões para acreditar em 2015, SEO, beleza feita em casa;

2016: palestra com Cláudia Giudice – percurso agilizando a vida (produtividade, consultoria de estilo, finanças pessoais, aplicativos); percurso agilizando seu negócio (branding da gentileza, canva, mailchimp, vendas); oficina de crochê com malha.

– Por que muitas mães têm tanta dificuldade para conciliar o mercado de trabalho e a maternidade?

Primeiramente, há uma avaliação mais subjetiva e extremamente particular a cada família sobre como querem educar seus filhos. Muitas mães desejam estar perto deles para acompanhar o desenvolvimento. O problema é que não querem ter de fazer uma escolha. Elas querem as duas coisas: trabalhar e estar perto dos filhos.

Outros aspectos, no nosso entendimento, são mais característicos da nossa época.

  1. Mobilidade das grandes cidades – como é difícil se deslocar do trabalho para estar às seis em ponto na porta da escola. Ai meu deus… Ouvi muitos depoimentos de mães que resolveram mudar de vida ou pedir demissão em meio a uma marginal paulistana alagada, tendo de ligar na escola para justificar o atraso. Ah, isso corta o coração de qualquer mãe.
  2. A falta de acolhimento das empresas. Elas precisam apoiar essa mãe ou pai. Não estamos falando de um problema doméstico, mas de uma construção de uma sociedade. Flexibilizar o horário, por exemplo, pode ser um caminho. As empresas não se importam. Simplesmente não se importam.
  3. O envelhecimento produtivo das avós. As avós de hoje não são como as de antigamente. Elas trabalham, têm suas atividades. Portanto, é mais difícil — e até mesmo “injusto” — exigir que a avó fique com os netos para que as mães possam trabalhar. Ainda existe, mas isso mudou bastante.
  4. O custo alto da mão de obra de uma babá ou cuidadora. A PEC das domésticas — que somos totalmente a favor — encareceu o custo do serviço. Pagar as horas extras porque não conseguimos sair do trabalho na hora do rush para render a babá nos faz voltar ao item 1, não é? Por isso as escolas aumentaram a carga horária, para atender esses pais.Em linhas gerais, é essa avaliação que fazemos, mas pensamos também que há uma porção de mães e pais que perceberam que estar perto dos filhos, acompanhando seu desenvolvimento, é prazeroso e pode ajudar a construir uma sociedade mais feliz.

– De que forma vocês atuam para auxiliar as mães a empreender?

Nós não somos empreendedoras, dessas que nasceram com a estrela para empreender. Estamos aprendendo juntas. O que queremos é ajudar da forma que podemos, indicando conteúdos relevantes, unindo pessoas que possam auxiliar, promovendo encontros de capacitação e, principalmente, acolhendo e ouvindo essas mulheres.

– Quando e como ocorrem esses encontros?

Não temos uma data fixa, mas tentamos fazer uma vez por mês. Sem contar happy hour, ok? Buscamos espaços que são de comadres. Já fizemos na Casa Galpão (Vila Mariana), na Cake (Vila Madalena) etc. Nosso próximo encontro, primeiro de 2017, será sobre equilíbrio materno e acontecerá em um espaço no Itaim. Vamos promover um bate-papo com duas coaches especialistas no assunto. Queremos investigar o seguinte: mesmo se equacionarmos a questão da maternidade versus trabalho, essa comadre se sentirá apoiada e equilibrada? Achamos difícil e temos algumas ideias de que outros aspectos da vida precisam de muita energia.

Você também pode gostar:

– Quais os resultados que vocês puderam perceber com as consultorias prestadas?

Olha, no final do ano fizemos um happy hour. Uma comadre que participou da consultoria nos deu um feedback bastante emocionante. Ela disse que teve uma crise de estresse e que no hospital, no meio da crise, só conseguia lembrar das comadres dizendo pra ela que ela tinha de ter uma equipe substituta para poder contar em momentos complicados (como aquele que estava vivendo). Fiquei feliz com o depoimento dela. Não acho que a pessoas saem da CC com todas as soluções debaixo do braço ou com o plano de negócios resolvido. De forma alguma, mas acho que ela sai inspirada e com o coração quentinho.


Entrevista realizada por Angelica Weise da Equipe Eu Sem Fronteiras.

Sobre o autor

Eu Sem Fronteiras

O Eu Sem Fronteiras conta com uma equipe de jornalistas e profissionais de comunicação empenhados em trazer sempre informações atualizadas. Aqui você não encontrará textos copiados de outros sites. Nossa proposta é a de propagar o bem sempre, respeitando os direitos alheios.

"O que a gente não quer para nós, não desejamos aos outros"

Sejam Bem-vindos!

Torne-se também um colunista. Envie um e-mail para colunistas@eusemfronteiras.com.br