Associação livre — método de atendimento dentro da psicanálise e que se faz presente até os dias de hoje —, é quando o analista trabalha com o conteúdo que o analisando revela por meio de uma conversa sem nenhuma indução de palavras, ideias preestabelecidas ou julgamentos, de modo que o analisando sinta-se à vontade e tranquilo para falar e falar, como o caso famoso de Emmy Von N., que durante uma sessão protestou: “Pare de me fazer perguntas e me deixe falar!”, e assim surgiu esse conceito e método.
O que chama a atenção de muitos e causa um certo questionamento é a questão da palavra “livre”. O que seria essa tal liberdade que o paciente tem na consulta (ou pelo menos busca ter)?
Partindo desse ponto de vista, em que o analisando é livre, me lembro da reflexão “liberdade é escolher seu compromisso”. Em outras palavras, seria a responsabilidade em ser livre para ser justo consigo mesmo; o que me faz pensar nesse conceito de liberdade que buscamos nas sessões psicanalíticas. Tendo em mente as instâncias da segunda tópica, em que certas questões sociais se encontram, penso que falar sem medo do que o analista vá pensar seja um passo de convicção, apesar de, na maioria das vezes, ser estruturalmente confuso quando o paciente fala de sua vida profissional, pessoal, objetivos e de todos que estão à sua volta. Em alguns dos casos, o paciente culpa sempre algo ou alguém que não seja ele mesmo, se sente vazio de si.
Então, ao prestar atenção e sabendo como o próprio Freud coloca, não havendo certo ou errado, “perder o foco é a chave para encontrar o inconsciente”, onde armazenamos muito do que nos incomoda profundamente. É sempre no inconsciente que está a causa de nossas angústias, medos, traumas e impulsos, porém as consequências que esse conteúdo reprimido causa transita pelo pré-consciente e consciente, do Id para Ego e Superego.
É quando acredito que o paciente necessita fazer uma mistura de sentimentos e sensações para poder expressar em palavras como se sente, de fato. Isso pode levar tempo, afinal, o silêncio é um ponto e um momento crucial nas sessões psicanalíticas, faz parte e tem muito a dizer, o analista não tem a obrigação de resolver um certo desconforto em uma primeira conversa, e nem de se posicionar com uma vaga opinião. Por isso, é necessário tempo, paciência, sinceridade e dedicação, pois são questões que precisam de cautela, já que cada indivíduo equivale a um universo, somos universos paralelos, existem padrões e conexões, mas jamais serão idênticos.
Associação cabe ao analista interpretar, estar atento e saber ler nas entrelinhas; ao analisando, cabe se permitir ser livre e ter coragem para se enxergar, se reconhecer e se transformar, buscar pelo equilíbrio no set analítico. Como diria o ditado, “A vida não tem equilíbrio, tem equilibristas“, o que diz muito sobre a relação analista-analisando.
Após estudar o artigo “Solidão, Desamparo e Criatividade”, separei a frase de Paul Waster que diz: “Uma vida só pertence à uma pessoa que a vive. Eis a solidão em que estamos encerrados, como em um quarto, como em um crânio, onde nossos pensamentos, por mais que viajem, sempre nos trazem de volta a nós mesmos”. Isso serve para todos nós, em qualquer posição, de dentro para fora. Platão retrata, em ” A República”, os conceitos do que é um indivíduo, sociedade e estado. Ser um indivíduo seria quando a pessoa desperta uma consciência, quando ela desperta um senso de existência que a faz deixar de apenas existir e começar a viver. Ela se torna um indivíduo. Sendo assim, trago a ideia de que quando tomamos essa consciência em ser um, é quando nos deparamos com a responsabilidade de estar no todo. Ser parte e não simplesmente fazer parte, e ser parte dentro da visão psicanalítica é abrir as portas dos nosso quarto, tantas vezes confortável e desconfortável, e ir para essa viagem que é a nossa vida e a dos outros.
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A escolha em ser um profissional psicanalista é um mergulho na solidão e na multidão ao mesmo tempo, a busca pelo autoconhecimento e autorreconhecimento faz com que entendamos alguns dos mecanismos de defesa que nossa mente nos proporciona, a grande questão é saber lidar com isso, evoluir com isso, para quando estivermos na posição de atender uma pessoa que precisa também fazer esse intenso e sublime mergulho, saiba que a recompensa é única e muito pessoal, é simples, mas não é fácil. Ser psicanalista te dá a oportunidade de ser diversas faces e personalidades, entender para compreender, compreender para entender, ter empatia, fazer o que for preciso desde que a intenção e a motivação de fazer o que fazemos faça com que nós sejamos apenas um reflexo do paciente, e que ele possa enxergar nele o que foi buscar em nós.