Autoconhecimento, ao contrário do que muitos pensam, não é uma construção de ideias sobre quem somos, nem um esforço para alimentar o ego com uma versão mais aceitável de nós mesmos. Ele não é sobre criar uma nova imagem, mas sobre revelar o que já existe, camadas abaixo de ilusões e defesas que nos acompanham por tanto tempo. A ilusão popular é que essa descoberta é serena, sempre pacífica. Mas o despertar verdadeiro vai além dessas camadas superficiais e, na realidade, dissolve-as.
O livro “Lado B”, traz exatamente essa proposta: um olhar honesto e direto sobre as sombras que carregamos e que, muitas vezes, preferimos ignorar. Autoconhecimento é, sobretudo, um convite para enxergar-se sem expectativa ou julgamento, como se observa uma paisagem, sem tentar controlá-la, apenas permitindo que ela seja. Nesse espaço, emergem os aspectos que temos dentro de nós, e o que surge nem sempre é o que gostaríamos de ver. São memórias, feridas e velhos padrões que moldaram o “eu” que projetamos ao mundo e que defendemos com tanto zelo. Essas projeções, no entanto, não são, de fato, quem somos; são apenas o que pensamos ser.
Ao entrar em contato com o autoconhecimento, experimentamos uma espécie de morte das ilusões, daquilo que criamos como nossa identidade. Lado B explora essa rendição, esse espaço onde deixamos de resistir ao que existe em nós. Aceitamos o momento presente e o que ele revela, sem adicionar camadas de análise ou julgamento. Essa aceitação é libertadora, ainda que, de início, pareça desafiadora.
É fácil mostrar um rosto sorridente e palavras inspiradoras que sugerem que “tudo está bem”. Mas o verdadeiro autoconhecimento não se limita a sorrisos e frases de efeito. Ele nos revela os lugares de resistência, onde ainda nos protegemos daquilo que nos confronta. Essa resistência é o que impede a verdadeira paz. Enfrentar essas camadas não é apenas analisar as nossas sombras, mas ultrapassá-las, permitindo que elas percam o poder de nos controlar.
O autoconhecimento, então, é menos sobre “conhecer-se” e mais sobre perceber-se. Ele permite que as velhas estruturas desmoronem, revelando um espaço silencioso onde habitamos sem pressa, sem expectativas. Nesse estado, deixamos de lado as defesas que criamos para lidar com o mundo e simplesmente nos abrimos à experiência de ser. Esse é o convite de Lado B: descer as camadas mais profundas de percepção e aceitação do que já está presente em nós.
A mente quer categorizar o autoconhecimento, transformá-lo em um conceito ou uma meta. Mas essa necessidade de compreensão intelectual limita a profundidade desse processo. O autoconhecimento não é algo a ser alcançado; ele está presente em cada momento de atenção ao que somos, em cada pausa que fazemos para observar, em silêncio, o que está vivo dentro de nós. Com o tempo, as ideias de quem somos começam a se dissipar, e um entendimento mais amplo e intuitivo surge, um estado em que o “eu” se torna fluido, sem necessidade de definições.
Você também pode gostar
Se você se sente atraído por esse caminho, saiba que ele não requer esforço contínuo para “melhorar-se”, mas uma disposição para ser verdadeiro consigo mesmo, uma abertura para o momento presente. Com o desaparecimento das camadas de ilusões, o que resta não é um “novo eu” mais iluminado, mas a essência de quem você sempre foi, livre da busca por aceitação ou aprovação. E, nesse ponto, a ideia de autoconhecimento deixa de fazer sentido – pois o que emerge é um estado de paz, onde o “eu” é apenas uma percepção fluida.
Que essa leitura seja uma pausa para que você não apenas reflita, mas experimente o silêncio em seu interior, revelando o Lado B que merece ser vivido!