Já dizia aquele ditado, meio clichê, por sinal, mas muito certeiro: “Antes só do que mal acompanhado”. Se formos analisar esse enunciado com mais profundidade, poderemos até falar de amor-próprio, autoconhecimento e a oportunidade de melhorarmos como pessoas – em todos os planos da vida.
Antes de mais nada, estar solteiro nos permite aprender a lidar com as nossas próprias questões. E isso é algo libertador. Mas é preciso que estejamos dispostos a nos conhecer profundamente, a analisar todas as nossas virtudes e falhas.
De nada adianta estarmos sós se não tivermos a capacidade de fazer uma imersão em nós mesmos, se não nos propusermos a cuidar do nosso emocional, até mesmo a fim de nos prepararmos para possíveis novos relacionamentos – não que isso seja um propósito, mas é uma forma de sabermos o que nos agrada e o que não. Assim, evitamos relações abusivas e não permitimos que nos deem menos que merecemos.
O mito da “solidão ruim”
Ao longo de nossa vidas, somos levados a pensar que a felicidade está em encontrar o par ideal, que só somos felizes quando encontramos a nossa outra “metade da laranja”. Essa ideia é bastante difundida até mesmo em novelas, filmes – especialmente nas comédias românticas. É só reparar nos finais felizes: quase sempre tem casamento e gravidez. Não que isso seja algo ruim, até porque cada um merece ser feliz da forma que deseja. Um companheiro para a vida inteira é algo valiosíssimo. E filhos são uma verdadeira realização, a tradução do amor inexplicável. Mas nem todo mundo precisa disso para ser feliz, de forma temporária ou definitiva.
Somos condicionados a entender, desde cedo, que estar solteiro é ruim, é sinônimo de incompetência emocional – quem nunca ouviu a máxima “ficar pra titia”? Ou aquele olhar crítico para pessoas que já estão na casa dos 30 e ainda não se casaram? A primeira coisa que ouvimos é: “Com certeza, tem alguma coisa errada com essa pessoa”.
Solteiro, sim; sozinho, às vezes
Embora solteirice não tenha a ver totalmente com solidão, é impossível não falarmos sobre solidão, já que, em muitos momentos – mesmo que tenhamos vários amigos –, estaremos sós, voltados para a nossa própria individualidade.
E isso é bem interessante, porque nos permite uma imagem clara e pura da nossa essência. Não precisaremos estar refletindo as ações de alguém, porque, queiramos ou não, as relações a dois transformam um pouco as nossas atitudes, nem sempre conseguimos ser nós mesmos, porque abrimos concessões, estamos sendo influenciados – e também influenciamos.
Dessa forma, para que nos sintamos bem com os outros, precisamos nos sentir bem com nós mesmos, e é esse o ponto da nossa evolução – inclusive espiritual. Precisamos nos amar, praticar o autoamor, o autoperdão. Isso leva a uma vida mais plena, equilibrada. Se somos capazes de perdoar nossas próprias falhas, conseguimos olhar o outro com mais empatia.
Em outras palavras, estar sozinho deve ser uma experiência de autoconhecimento, amor-próprio. Um momento para trabalharmos nossa autoconfiança e autorrespeito. A introspecção traz um olhar para dentro, que nos permite, até mesmo, enxergar e curar aquelas feridas que já não percebemos quando estamos nos relacionando com os outros. E aí persistimos em erros que nos levam ao sofrimento, pois não conseguimos notar que essas dores estão nos levando a agir de forma errática e viciosa.
Fora que a solidão relativa a um relacionamento a dois faz com que tenhamos mais tempo para explorar aspectos de nossa vida que acabamos deixando para trás ou dando menos importância do que merecem, e isso desgasta também a nossa autoestima. Não podemos viver em função de outra pessoa.
Estar só, para equilibrar as energias
Perder a nossa conexão com nós mesmos é algo que nos desestabiliza, que nos faz mal, e isso resulta em uma bagunça emocional, que vai ser perpetuada em outras relações – amorosas ou não. É um passo atrás na nossa busca por evolução.
Toda desconstrução começa de dentro pra fora, do “eu” para o mundo. Se não conseguimos lidar com o nosso caos, seremos um caos andando em torno de outros, sem a menor chance de encontrar um equilíbrio das energias que emanamos e recebemos. É preciso arrumar a nossa “casa” para saber onde cada energia irá fluir ou até mesmo dar espaço para que as vibrações ruins encontrem um caminho de saída.
Ao passo que conseguimos nos organizar, vamos entendendo os nossos comportamentos, nossas reações, aquilo que nos anima ou nos estressa. Somos capazes de detectar o que ativa nossa raiva ou piedade, o que estimula a nossa vontade de estar ali, vivendo determinadas situações ou as evitando.
Osho e o amor-próprio
Em seu livro “Amor, Liberdade e Solidão – uma Nova Visão dos Relacionamentos”, Osho afirma que a solidão pode ser positiva para o nosso desenvolvimento espiritual. Em suas páginas, ele menciona um dos ensinamentos do Buda: “Ama-te a ti mesmo”, na contramão do que algumas religiões costumam ensinar, ou seja, o propósito desse ensinamento traz duas grandes verdades: se soubermos nos amar, seremos capazes de amar o outro de forma mais honesta; e, sendo o amor um alimento para alma, sem ele o nosso corpo enfraquece e nossa alma adoece. Nossa energia espiritual, segundo Osho, tem que ser rebelde. E, para isso, precisa de força. E essa força é o autoamor.
O amor-próprio nada tem a ver com ego. Pelo contrário, quando nos voltamos para o nosso eu, para as nossas prioridades, seremos verdadeiramente felizes e podemos tornar os outros felizes. Olhar para nós mesmos, de um jeito até um pouco egoísta – no sentido de buscar nossa própria felicidade –, permite que o mundo ao nosso redor se beneficie também, pois não faremos algo pelos outros por uma questão de fardo ou de servir a alguém de forma sacrificante. Faremos porque queremos, porque não buscamos nada em retorno.
Osho diz: “… uma pessoa feliz pertence a si própria”, “Alguém que se ame a si mesmo dá o primeiro passo na direção do amor verdadeiro”. Isso porque, como ele próprio afirma, o amor é alimento da alma e do corpo. Se estamos plenos de amor por nós mesmos, ele transborda e se distribui por todos os lados.
Quando sabemos onde cabemos e onde não cabemos, somos mais independentes e crescemos com isso. Fazendo, também, com que todos a nossa volta evoluam conosco. É por isso que o amor-próprio é tão importante, e estar sozinho ajuda nessa missão de autodescoberta.
Que tal tentar se curtir?
Para sabermos o que nos faz bem e o que nos faz mal, precisamos desse tempo “solo”. Assim conseguimos nos ouvir com mais clareza e detectar nossas dores e feridas. O silêncio dessa autorrelação pode nos trazer a cura e, como consequência, nossa evolução diante de nós mesmos, dos outros e do mundo.
Que tal tentar curtir a sua própria companhia? Faça coisas sozinho, experimentando o prazer de não depender de ninguém ou abrir concessões. Que tal ser um pouco egoísta (no bom sentido, claro) e favorecer suas próprias expectativas?
Experimente algumas destas dicas do que você pode fazer sozinho e que vão te proporcionar equilíbrio para lidar com a solidão, entendendo-a como uma oportunidade e um regalo, e não como uma punição.
Pratique o perdão
Se você acabou de sair de uma relação, aproveite para analisar o que não deu certo, mas sem se prender a culpas e mágoas. Aproveite para lembrar-se de que viveu ótimos momentos e que, se chegou ao fim, é porque foi necessário. Quanto aos erros, apenas busque acolhê-los, sem julgamentos, mas com a intenção de aprender e não os repetir no futuro.
Avalie o que falta em sua vida
Quando estamos em um relacionamento, nem sempre temos tempo de analisar o que falta em nossas vidas. Não se trata só de uma questão material, mas também – e principalmente – emocional e espiritual. Faltou valorizar-se mais? Dizer mais “nãos”? Evitar situações desagradáveis? Quais sonhos você adiou para manter essa relação? Agora que está solteiro, pense mais no que você pode fazer por você.
Dê-se um tempo
Não caia na armadilha de buscar um relacionamento “tapa-buraco”. Primeiramente, uma pessoa não substitui a outra. Um novo amor não cura as feridas do antigo. É só você que pode fazer isso por você. Fuja dessa cilada, pois pode se machucar ainda mais. Dê um tempo a si mesmo, aprenda a desacelerar e enxergar a beleza de estar consigo.
Aproveite a família e os amigos
Você sente que perdeu um pouco da conexão com seus amigos e seus familiares? Isso é bem comum durante um relacionamento – seja porque, no início, é aquela paixão toda; seja porque, em casos de relacionamentos que não são tão sadios, somos praticamente apartados das pessoas que antes eram bem próximas.
Aproveite para ver essas pessoas com mais qualidade de tempo. E evite fazer com que as conversas girem em torno do relacionamento (caso você esteja recém-separado) ou da sua condição de solteirice. Fale sobre coisas leves, amenas, engraçadas. Relembre os momentos de infância.
Busque lembranças suas que já estavam arquivadas… vai ser um momento bom também para que você se resgate nesse processo. Pode parecer bobagem, mas só o fato de rever um antigo álbum de fotos faz com que nos reencontremos com muito do que deixamos no caminho ao longo dos anos. Faz um bem danado!
Conheça pessoas novas
Aproveite essa liberdade de estar solteiro para conhecer novas pessoas. Não necessariamente significa que você precise conhecer pares novos. Apenas fazer novos amigos, mesmo que virtualmente. Conhecer novas culturas é algo que vai te enriquecer intelectualmente.
Agora, se você quiser paquerar, apenas certifique-se de que está pronto para isso e que as marcas dos relacionamentos anteriores não estão atuando sobre seus sentimentos. Tanto as ruins, que fazem com que nos privemos de curtir a outra pessoa, quanto as boas, que podem nos forçar a fazer comparações injustas. Se você não está pronto para se envolver, apenas se dedique a novos amigos.
Adquira novos hábitos… ou retome os antigos
Agora é hora de virar a página. Estar só é um momento desafiador. Você precisa retomar sua vida de solteiro, e, por mais que isso seja libertador, dá um certo medo. Mas não precisa ser assustador. Veja isso com leveza, como uma oportunidade de tentar o novo ou resgatar coisas das quais você abriu mão, por algum motivo.
Então, que tal adquirir novos hábitos? Fazer um curso diferente, desenvolver novas atividades. Ou até mesmo retomar projetos antigos ou estacionados. Tirar do papel aquele sonho antigo. Pode ser um grande plano ou algo bastante simples. Não há uma regra de “sucesso”, apenas teste, experimente. Procure ver-se em novas possibilidades. Dê-se a chance de encontrar um caminho independente.
Aprecie seu tempo
Além de não precisar mais dar satisfação do que você vai fazer ou aonde irá, você poderá se desconectar sem preocupações, apreciando o seu próprio tempo e ritmo. Desfrute sua própria companhia e aproveite para se dedicar a si mesmo.
Promova o autocuidado, planeje uma viagem solo, faça coisas de que gosta e que não fazia há um bom tempo. Experimente a sensação de tomar um drinque e saborear cada gole, por exemplo.
Medite
Se você já tem o hábito de meditar, aproveite para colocar esse hábito em dia. Agora, se nunca realizou essa prática, está mais do que na hora de experimentar. A meditação realmente muda nosso estado de espírito, e isso é fundamental para encontrarmos nossa paz interior.
Uma boa opção é praticar o mindfulness, ou atenção plena. Essa técnica ajuda a conectar você com o momento presente. Às vezes, fazemos tudo no automático e acabamos nos desconectando de nós mesmos, tendo, inclusive, a sensação de que não estamos vivendo de fato.
Praticar o mindfulness vai te trazer ao agora. E isso promove uma sensação de bem-estar pleno e felicidade, reduzindo o estresse e a ansiedade, que podem aumentar quando nos deparamos com a solidão em um primeiro momento. Além disso, essa prática te ajuda a aprimorar a capacidade de tomar decisões conscientes – aliás, algo muito necessário.
E o mais importante: cure suas feridas
Não importa se você está recém-solteiro ou se fez essa opção já há algum tempo. Estar solteiro, a sós com você mesmo, é importante para que localize o que te feriu e o que te causou alguma mágoa e ainda está reverberando nas suas emoções.
Não faz bem remoer sentimentos ou qualquer coisa que desequilibre nossas energias. Isso nos afasta da nossa evolução espiritual, faz com que fiquemos empacados, impedindo o aprendizado e a ressignificação das nossas emoções, do nosso interior. Dessa forma, busque um momento para entender seus sentimentos.
Nem sempre será possível fechar completamente uma ferida, mas será bom ter tempo para cuidar dela e de si, aprendendo a se valorizar – suas feridas serão seu alerta a cada vez que você não souber dizer não ou colocar as necessidades do outro na frente das suas, violentando suas emoções para agradar a alguém. Olhando para essas feridas abertas, você vai perceber o custo de não se priorizar. E vai pensar duas vezes, evitando novos machucados.
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Lembre-se: estamos neste mundo para evoluir, cada pessoa que passa por nossa vida deixa um aprendizado, e é por meio dessas lições que nosso espírito transcende.
Experimente, pratique o autoconhecimento, aprenda a apreciar a solteirice. Não há nada de mau em estar só. Apenas precisamos entender melhor e aceitar a nossa própria companhia, pois ela ainda é a melhor que existe. Se conseguirmos extrair o nosso melhor, poderemos oferecê-lo ao mundo, tornando-o um lugar mais equilibrado para se viver. E isso é bom para o fluxo das energias. Afinal de contas, um mundo melhor começa em nós!