Chegará o dia em que faremos os maquinários que produzem ritalina estourar. A produção vai ser tão grande que todas as máquinas irão parar. E não será gradativo. Todas pararão de uma vez.
O estoque, contendo milhares de cartelas de ritalina, acabará em menos de duas semanas, dado ao consumo ininterrupto.
Quando as farmácias ficarem com as prateleiras vazias, os farmacêuticos vão negar o produto e o consumidor desesperado que procura a ritalina não saberá o que fazer. Pais olharão para seus filhos inquietos no carro e se perguntarão: como faz para parar?
No dia em que os maquinários pararem de produzir ritalina, os pais e as mães desesperados vão ter que começar a brincar com seus filhos. Vão ter que redescobrir o sentido de correr junto e correr atrás. Vão descobrir que televisão não prende tanto assim, mas brincar de carrinho de madeira e fazer cabaninha em casa é muito legal e tem um efeito até parecido.
O dia em que as escolas ficarem sabendo que as ritalinas não estão mais no mercado, as salas de aula serão reinventadas. As professoras e os professores vão perceber, à força, que prender a criançada em uma sala de 30m² enquanto falam-falam-falam-falam não é tão bom assim. Vai ser necessário abrir a porta da sala, sair um pouco, respirar lá fora.
A docência há de se redescobrir com o fim da ritalina.
Já imagino a manchete em vários cadernos jornalísticos de educação: professor da educação infantil descobre que para ensinar cores não é preciso uso de livro didático; seu método com brincadeiras vem sendo admirado pelo mundo todo.
Quando a ritalina acabar mesmo e não sobrar nem as clandestinas e nem farelo de cartela, os uniformes sujos, os brinquedos perdidos e as fantasias que as crianças contam serão mais aceitos e vistos por aí.
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Isso tudo só quando a ritalina acabar… Enquanto isso, voltemos ao preparatório do ENEM para crianças de seis anos.