Já algum tempo, não sou fã de datas comemorativas, e isso mesmo antes do meu despertar. Lembro-me de passar sozinho algumas datas como esta, indo dormir cedo e tendo como ceia a metade de um mamão, sem problema.
Não sei, talvez fosse minha parte consciente falando comigo, dando dicas, dizendo que isso era desnecessário, e que posso fazer melhor do que comer e beber como se não houvesse amanhã, e que fraternidade eu poderia mostrar todos os dias nos pequenos gestos entre as pessoas que estão ao meu redor. E para fazer, não precisaria estar com uma roupa nova ou sair distribuindo presentes por aí.
Na última semana antes do Natal, fui fazer um estudo de campo. Peguei minha bike e pedalei por cidades vizinhas e pela minha, onde pude constatar algo que eu já sabia há algum tempo, mas precisava ver para poder escrever estas palavras que o leitor está lendo agora. O comportamento das pessoas nestes últimos 10 dias do ano se assemelha muito com a bebida espumante que é usada para celebrar as datas comemorativas e que tem bolhas que fazem cosquinhas na boca: o champanhe. Parece que todos sofrem uma pressão tremenda durante doze meses, trabalhando muito, estudando muito, ouvindo palavras de opressão, engolindo a seco suas opiniões, sofrendo todo tipo de assédio. E quando finalmente podem, explodem num furor, de uma vez só, tentando ser felizes como não foram nos últimos 355 dias. E como o período é curto, precisam tirar o atraso de 12 meses, então comem demais, bebem demais, e gastam demais. Digo a vocês: quando um sujeito é submetido a muito tempo de privações, tende a ter uma dificuldade séria de discernimento. Por isso, em datas desse tipo, tudo é consumido e pouco avaliado, “se está na mesa é para comer”. Mas todo carnaval tem seu fim, e, passado o frisson das comemorações, todos voltam para sua vida “normal, pacata e chata” Fim… ou não.
E se imaginássemos nossa vida como um pêndulo, e estar vivo significasse manter-se entre felicidade e tristeza? Quando houvesse um pico de um dos lados, consequentemente teríamos um pico do outro. Não seria mais correto mantermos esse pêndulo o mais equilibrado possível? Nem muito para cá, nem muito para lá?
E você, o que prefere: vinho ou champanhe?
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