Ver é algo mais físico, superficial. Para ver é preciso ter o sentido da visão. Enxergar é perceber algo com mais profundidade. Para enxergar é preciso ver o todo e os detalhes. Você, caso tenha o sentido da visão, pode ver e enxergar, sobre o que viu. Seja de maneira material ou com os olhos imateriais da mente. Enxergar envolve um esforço visual, uma atenção maior.
Uma pessoa com baixa visão não pode ver, mas com um esforço visual pode enxergar sem detalhamento: vultos, formas e cores.
O produto vai chegar até o cego de nascença, o que perdeu a visão jovem, o adulto e o que tem baixa visão.
Talvez você esteja pensando: mas como alguém que nasceu cego vê as cores e as formas se não forem tocadas? Se ele não tem uma memória visual, qual é a referência? Por isso, se seus clientes são os cegos, nada mais natural do que escutar, perguntar e aprender, e não só estudar. Esse papo fica para um outro artigo, pois tem muita história bacana para contar.
Ver envolve o sentido físico da visão. Um cego não vê, mas você pode usar o verbo sem receio quando se dirigir a uma pessoa cega: “Você viu aquele maluco berrando?”. “Você viu que legal esse novo aplicativo?”. As pessoas cegas não se ofendem e até gostam dessa naturalidade.
Se você ainda se sente desconfortável quando se depara com uma pessoa com deficiência, tudo bem, é um ranço cultural. E, aqui, estamos conversando só sobre a deficiência visual.
Não é ceguinho, não é coitadinho, muito menos bonzinho.
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Não é deficiente, não é portador.
Porta-se uma bolsa, óculos, cabelos ressecados ou uma barriga incômoda, um namorado chato a gente porta.
Não se porta uma deficiência! Nomenclatura correta e bacana: pessoa com deficiência. A pessoa vem antes da deficiência, é inquestionável, uma pessoa com qualidades e defeitos. Sujeito direto, jamais oculto. Olha-se nos olhos dos cegos em uma conversa, fala-se diretamente, e não com o acompanhante, caso presente. Avisamos com um “fui” quando a gente sai de perto, pois é muito chato deixar a pessoa no vácuo!
É só uma característica, a supressão de apenas um sentido.
Ah, e por falar em sentido, quer deixar um cego sentido? Fale alto, confunda cego com surdo, tudo bem que temos os surdocegos, mas é papo para outra hora.
Quer auxiliar um cego? Perguntou se ele precisa de auxílio? Pergunte! Nem cogite puxar a pessoa pelo braço, ofereça o seu braço para conduzir a pessoa, o esquerdo.
Mas e se e se e se estiver com cão guia?
Mas e se e se e se estiver com bengala e cão guia?
Mas e se e se e se estiver sem bengala e sem cão guia?
E se for um canhoto?
Perguntar é sempre o melhor lance! Somos todos deficientes, estamos em aprendizado contínuo, só erra quem tenta.
E quem tenta muitas vezes acerta.
Em um seminário na Secretária da Pessoa com Deficiência, ouvi de uma palestrante usuária de cadeira de rodas: “Estou aqui porque cheguei à sala de conferências sem dificuldades. O espaço todo é equipado com rampas, elevador e todo tipo de acessibilidade. Só me sinto deficiente quando o espaço também é!”. Palmas. Muitas palmas.
Entende? O entrave é a falta de acessibilidade, para que os cidadãos com deficiência possam desenvolver plenamente as suas competências.
Quando falamos em acessibilidade, estamos falando em interferências, ações que permitam que todos participem ativamente do convívio em sociedade, pessoas que culturalmente foram excluídas por muito tempo e tinham que se adaptar em um mundo feito para as denominadas “pessoas sem deficiência”.
A população cega, em geral, é atuante, exigente e participa de todo tipo de evento: cinema, teatro, exposições, palestras, musicais e tudo o que as pessoas que enxergam têm acesso. Usam as mídias sociais, compram, vendem, se divertem, estudam, trabalham, tem filhos e geralmente não gostam de ser rotulados como exemplos de superação.
Ainda assim, muita gente acredita que os cegos são cegos. E ponto.
Vírgula. São somente cegos.
O pior cego é aquele que não quer ver.
Sei lá quem disse isso, mas a pessoa enxergava longe!