Autoconhecimento

Você brinca do que?

Homem negro usando camiseta branca, jogando disco vermelho.
Phongthorn Hiranlikhit / 123rf
Escrito por Juliana Meyer Luzio

Você acha que brincar é coisa de criança? Ou você ainda brinca, mesmo depois de adulta ou adulto? Infelizmente, acho que para a maioria de nós brincar é coisa de criança, salvo para quem tem filhos. Mas isso também não é uma regra, afinal a terceirização do brincar com os filhos é grande.

Na infância o brincar é coisa séria porque libera criatividade, proporciona espaço físico e mental de elaborações psíquicas, cultiva a imaginação e a fantasia, possibilita construções e desconstruções de relações e conflitos. O brincar é um espaço singular e coletivo, em que cada criança interage como e quando quer com os outros – aqui, ela se permite ter espaço. Mas e quando crescemos, não precisamos dessas coisas todas que o brincar proporciona? Ou adquirimos outras maneiras de obtê-las?

Minha hipótese é de que aprendemos que ao crescer precisamos nos tornar sérios, responsáveis e brincar não possibilita esses aprendizados. Ledo engano, nas brincadeiras infantis internalizamos regras, aprendemos a respeitar e esperar a vez do outro.

É brincando que as crianças vão tecendo laços de cumplicidade e amizade. É brincando que o cuidar de si e do outro ganha dimensão, bem como defender nossos interesses e pontos de vista. De fato, brincar é coisa muito séria e, portanto, também coisa de adulto.

Cesta de basquete.
Jakob Owens / Unsplash

Mas o que é brincar? Pra mim é entrega, disponibilidade, alegria e afeto. Quando brincamos estamos ali, atentos ao redor, ao outro e a nós mesmos. Quando brincamos sentimos algo forte dentro de nós, como uma força brotando cheia de vontade de mexer o corpo, de sorrir, de cantar, de voltar a um tempo e/ou lugar em que o bom e o belo prevaleciam. Quando brincamos, voltamos a uma essência delicada que temos e que deixamos numa gaveta quando crescemos.

Fico indignada cada vez que vou a um parque com meu filho e vejo placas nos brinquedos dizendo que eles são permitidos apenas para crianças de até 10 anos. Primeiro porque reduzimos a 10 anos o limite para os balanços, gangorras, trepa-trepas e esse tempo é curto demais – 10 anos é criança e TEM que balançar!

Coisa boa nessa vida é balançar e aí vem o segundo motivo da minha indignação: me vejo proibida de diversão. Essas placas excluem os pais das brincadeiras e deveria ser justamente o contrário. Que momentos preciosos não teriam pais e filhos gangorrando juntos? Subindo até o ponto mais alto do trepa-trepa ou sentindo o friozinho na barriga cada vez que o balanço sai das alturas e volta pra terra? Proibido deveria ser não brincarem juntos! E confesso, às vezes, não me intimido com essa proibição e, sim, me acabo nos brinquedos.

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E pra você, o que é brincar? Você pode ler essas palavras e ficar se perguntando “mas como um adulto pode brincar?”, “brincar do quê?”. Muitas são as opções, desde brincar com crianças – seja filhos próprios ou de amigos, crianças do condomínio, do clube, sobrinhos, primos, até com outros adultos. E existem muitas possibilidades como jogos de tabuleiros, cartas, mímicas, qual é a música, stop, forca, estátua, gincanas e por aí vai.

Experimente reunir uns amigos num sábado a noite pra jogar detetive, por exemplo, aposto que darão muitas risadas e terminarão a noite já com o próximo encontro marcado. Brincar libera estresse, dá um tempo pra ansiedade do dia a dia e nos devolve o estar junto, olho no olho com o outro, mas de um outro lugar.

Me arrisco a dizer que uma diferença entre o brincar infantil e o adulto é que a criança está descobrindo o mundo, as possibilidades e as pessoas no brincar, enquanto que o adulto já descobriu, mas desaprendeu essa tal leveza e alegria no estar com o outro, porque agora esse estar com outras pessoas, na maioria das vezes, vem carregado de metas, trabalhos, rancores, desamores, enfim, vem pesado demais.

Homem e mulher brancos jogando mini pebolim.
Bao Truong / Unsplash

Por isso, é tão importante que os adultos redescubram o brincar, para resgatar ou aprender novas formas de estar junto e para acessar de vez em quando aquela força interna do belo e do bom que temos. E claro, para sorrir mais!

E aí, bora brincar!?

Sobre o autor

Juliana Meyer Luzio

Terapeuta que constrói sua clínica através de um espaço que integra fala, consciência corporal e quietude, tornando possível uma reconexão com o que há de belo, delicado e muito forte em nós - nossa saúde.

Formada em Psicologia, Psicanálise, Terapia de Integração Craniossacral, Transmutation Therapy, entre outros, está sempre em busca de conhecimentos que agreguem, em seu dia-a-dia maneiras, diferentes de olhar a vida.

Atualmente, além de sua clínica, lançou a Îandé, onde tem se dedicado à arte de criar e costurar produtos exclusivos e cheios de carinho.

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