Você e eu somos seres individualizados em nossa identidade egoica. Você tem seu nome, sua personalidade, sua postura física, mental e emocional.
Nascemos com certas características biológicas que herdamos dos pais, e uma carga energética que deles nos é atribuída. Aprendemos comportamentos e criamos um vínculo com a sociedade e cultura a qual estamos inseridos.
O ego é esta identidade que assimilamos e incorporamos para nos distinguirmos dos outros, como uma roupa que vestimos, um rótulo. E quando aprendemos a separar o eu do tu, desconectando-nos do Todo, os problemas se iniciam. Você passou a acreditar no seu eu e, deste modo, se condenou a ser apenas um rascunho.
Você não consegue sustentar por todo tempo essa identidade, porque ela é falsa e demanda um esforço inútil para que não se deteriore. É apenas uma colagem que tenta passar uma imagem, que não corresponde à realidade.
A neurose é o sinal de que os retalhos estão se descolando. O neurótico é um indivíduo que reage de forma exagerada à vida, extrapola o comportamento usual, tornando-se extremista. Transtornos de ansiedade, depressão, fobias, obsessões e compulsões são alguns dos desequilíbrios do ego, suas neuroses.
Ninguém consegue manter por tempo indeterminado a ilusão de normalidade e saúde, sob o domínio da mente egoísta. Ela é totalmente voltada a si mesma e age na contramão dos princípios que regem o espírito e a Natureza.
Conhecido por ‘mente inferior’, o ego nada mais é que uma mentira, um jogo, um drama teatral. No momento em que você se perdeu de sua essência e de sua realidade, assumindo a parcialidade do ego, sua vida tornou-se um vazio existencial.
Quem não sente o vazio que fica e a sensação de abandono?
Mas entenda que você não foi abandonado, e sim o responsável por tornar-se um solitário que abandonou sua integridade.
O medo passa a comandar o comportamento da mente egoica e não há bem-estar ou harmonia neste estado condicionado da mente, através do qual os desequilíbrios do corpo e da psique se desenvolvem.
Então, todos nos tornamos neuróticos, quando lá na infância passamos a nos guiar pelo egoísmo.
Você faz terapia, procura respostas e a cura para seus medos e desconfortos. Dificuldades de se relacionar e um mal-estar que você tenta disfarçar. Uma vida artificial e de ilusão…
Não existe cura para o ego!
Na visão da psicologia transpessoal, o ego é por si só um mal que deve ser extirpado.
Você tem que reconhecer que nada do que vem acreditando é real. Essa identidade sustentada com tanto sacrifício, como sendo você, é apenas uma visão fragmentada de si mesmo. Ela foi fortalecida em sua inocência, quando acreditou no que os seus pais, sua família, a escola e a sociedade lhe disseram sobre você.
Olhe-se no espelho e veja sua imagem refletida. Apenas uma imagem que não é real.
Você é um reflexo dentro de um espelho.
O Mito da Caverna, metáfora contida no livro A República, do filósofo grego Platão, expressa com propriedade a ilusão do ego.
Ele fala sobre prisioneiros que vivem acorrentados numa caverna e que passam todo tempo olhando para a parede do fundo, que é iluminada pela luz gerada por uma fogueira. Nesta parede, são projetadas sombras representando pessoas, animais, plantas e objetos, mostrando cenas e situações do dia a dia. Os prisioneiros ficam dando nomes as imagens , analisando e julgando as situações.
Um deles é forçado a sair das correntes para explorar o mundo fora da caverna. Ele entra em contato com a realidade e percebe que passou sua vida analisando e julgando “imagens projetadas” por estátuas.
Ele entrou em contato com o mundo real, com seres de verdade. Voltando, passou o conhecimento para seus companheiros presos. Porém, foi ridicularizado por aqueles que acreditavam na realidade de dentro da caverna, sendo chamado de louco e ameaçado de morte por suas ideias absurdas.
Então, precisamos sair da caverna, desta ilusão de uma visão distorcida da realidade, imposta pela sociedade e pelo egoísmo.
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A caverna representa as limitações da ciência materialista, que busca o conhecimento alienado e contido no reflexo das imagens de estátuas.
Para curar o neurótico, é necessário reconhecer que ele não é sua verdadeira essência. É preciso desconstruir e reconstruir o seu ser a partir de uma consciência maior e transpessoal. Perceber as deficiências dessa identidade falsa, incorporando o iluminado que habita o seu ser integral.
Prática Transpessoal para Desconstrução do Ego
- Feche os olhos e visualize um perfil de uma pessoa.
- Você irá desenhar mentalmente o rosto e o corpo dessa pessoa, sua criação.
- Coloque cores e detalhes e imagine características pessoais para ela.
- Ela é inteligente, simpática, prepotente, amorosa?
- Depois que houver moldado essa imagem e sua personalidade, incorpore-a.
- Imagine que você está representando um personagem numa peça teatral.
- Fique quanto tempo quiser nesta prática e quando cansar destrua mentalmente a imagem construída.
- Volte a si e perceba o quanto você pôde se entregar a esse personagem.
- Perceba as diferenças entre você e sua criação mental.