Normal é aquele que segue normas. Não existe um outro sentido para essa palavra. Por mais que dela, tenhamos um conceito elevado e as pessoas se orgulhem de dizer que vivem dentro da normalidade, na verdade, a vida de uma pessoa normal é uma vida escrava. Para que servem as normas senão para impor limites ou controlar as pessoas?
O homem só precisaria seguir uma única norma para se organizar: não tratar o outro como não gostaria de ser tratado ou não fazer ao outro o que não quer para si, pronto, tudo se resolveria. Todas as outras normas são questionáveis, existem para justificar crenças e valores, sistemas e paradigmas, mudam de acordo com o vento das circunstâncias e fazem parte da cultura e tradições de um povo. Quanto maior a quantidade de regras e normas dentro de uma sociedade, maior será o nosso nível de escravidão.
O homem que se considera normal precisa entender que sofreu uma profunda programação, na verdade, em muitos casos, não é mais um homem, é um andróide, uma máquina dócil que funciona integrada com um sistema que desconhece, mas que se aproveita dele. O que é a sociedade senão uma gigantesca granja, em que somos enclausurados e engordados, dentro de um espaço controlado, para darmos lucro?
Com o final da segunda guerra, movimentos a favor da contracultura, que pregavam a liberdade e a desrepressāo, aconteceram em várias partes do mundo. As tradições sofreram duros golpes e vimos desmoronar os sólidos alicerces de toda uma civilização.
Através das mais variadas expressões artísticas, os famigerados ‘bons costumes’ foram profundamente afetados, mas, infelizmente, não estávamos ainda preparados para sair do sistema. Saímos da escravidão da vida na granja para a escravidão dos sentidos. A falta de entendimento da própria natureza nos conduziu ao abismo das drogas e adotamos a promiscuidade em nome de uma rendição irresponsável aos prazeres do corpo, tudo isso, enquanto vivíamos entorpecidos e desorientados. Vagamos em busca de experiências exóticas com todo o entusiasmo de uma criança solta em uma loja de brinquedos, afinal, tudo passou a ser permitido. Confundimos liberdade com libertinagem e o elefante resolveu dançar na loja de cristais.
A geração hippie, que surgiu em um ambiente profundamente abalado pelo pós-guerra, começou a desconstruir o sistema industrial predatório e acabou vítima do próprio descontrole. A revolução sexual, que teve o alicerce filosófico da Escola de Frankfurt, ensinava o ‘faça amor, não faça guerra’, mas não se aprofundou no conceito do amor, apenas oferecia o sexo como o único instrumento de libertação. O LSD abriu as portas da percepção e escancarou a ‘sombra’ de uma juventude imatura, que estava em busca de um mundo novo e mergulhava no inconsciente sem os recursos cognitivos e emocionais necessários para fazer o caminho de volta. Voltamos para a granja e hoje, cada vez mais controlados, vivemos hipnotizados por instrumentos modernos, de alta tecnologia. Nos permitimos ser manipulados pela mídia e formatados por um sistema de controle cada vez mais sutil. Goethe sempre teve razão, o pior escravo é aquele que julga ser livre e é, justamente, o que hoje ocorre conosco, apenas mudamos a decoração da granja.
Você também pode gostar
Só há um meio de sair desse matadouro e não é pela porta da frente, mas pela porta do coração, olhando para dentro de si, buscando um maior entendimento da própria natureza, desenvolvendo o desapego necessário para acordar dessa hipnose. Sair da matrix e conhecer a realidade.
A única forma de mudar esse mundo é mudando a si mesmo, só assim será possível deixar de ser normal para ser natural.