Vivemos um período que requer um intenso recolhimento, o que causa certo incômodo. Mas, recentemente, percebi que poderia ressignificar esse momento e aproveitar o melhor dele, pois, no isolamento, tenho a oportunidade de estar mais próxima de mim. E não estou falando isso por uma perspectiva romântica ou exigente de que se deve passar metade do dia recolhido. Mas será que não é possível ficar meia hora desconectado do mundo e conectado consigo?
Por meio desse questionamento, percebi que estava dando mais foco nas notícias, nas pessoas, no futuro do que no presente e em mim. Começava o dia respondendo mensagens e lendo informações e ia dormir do mesmo jeito. Eu amo as conexões reais, e, graças à internet, temos nos sentido mais próximos. Mas até que ponto as conexões virtuais realmente conectam? Não que as ferramentas sejam ruins, apenas observei que a questão era a minha maneira de lidar com elas, pois tinha uma necessidade de estar sempre próxima aos outros, talvez fugindo da minha companhia. Rapidamente esse hábito se desdobrou em um consumo de imagens, de conteúdos que de fato eu não escolhia conscientemente. Até que percebi que eu não estava me colocando em primeiro lugar nem sendo minha maior incentivadora no dia a dia.
Todos nós temos histórias e vivências diferentes e por isso temos reagido aos desafios de formas variadas. Mas acredito que, independentemente das circunstâncias, precisamos parar por ao menos alguns minutos por dia. Parar para respirar, para sentir o quanto o corpo que habitamos é sagrado, o quanto viver é valioso!
Li uma pequena crônica da escritora Clarice Lispector do livro “Aprendendo a Viver”, de título “É Preciso Parar”, que gostaria de compartilhar:
“Estou com saudade de mim. Ando pouco recolhida, atendendo demais ao telefone, escrevo depressa, vivo depressa. Onde está eu?
Preciso fazer um retiro espiritual e encontrar-me enfim – enfim, mas que medo – de mim mesma.” (p. 32)
Às vezes, o medo do silêncio nos afasta de nós. É que, no silêncio, somos ouvintes e não sabemos o que vamos escutar. Mas o autoamor é amar as próprias sombras também e não negá-las. Amar só as qualidades é condicional e pouco verdadeiro.
Você também pode gostar
Agora, quando acordo, já não vou diretamente responder mensagens ou ficar informada sobre o mundo externo. Primeiro, abro os olhos e me pergunto: “Como posso ser gentil comigo hoje?”. Algumas vezes, é com uma caminhada, uma leitura, um chá. E aos poucos eu vou sendo minha melhor companhia e deixo de buscar conexões para suprir a saudade de mim. Mas, para isso, todos os dias tenho escolhido um novo hábito: parar. Concordo com Clarice que é mesmo preciso parar.