Há um tempo, existia um pequeno grupo de pessoas alternativas que praticavam yoga, e de repente não comiam mais alimentos de origem animal. Eles eram chamados de “bicho grilo”, muitos os achavam excêntricos.
De uns anos pra cá, com a aproximação do yoga e da medicina e a comprovação dos efeitos da meditação, esses preconceitos vêm sendo desconstruídos. Em paralelo, o veganismo também vem ganhando espaço. Segundo a Sociedade Vegetariana Brasileira, houve um crescimento de 40% no último ano.
Cada dia mais vemos informações dizendo que este estilo de vida é bom para nós, para os animais e para o mundo. Me perguntam muito se o yogi deve ser vegano ou vegetariano. E eu respondo: Sim! … e não, necessariamente.
Um dos principais resultados do yoga é julgarmos menos, logo, não cabe a mim dizer se alguém é ou não yogi por comer ou não carne. Na literatura do yoga, lemos que a alimentação incluiria apenas o leite, mas é incontestável que naquela época a forma que se adquiria o leite era diferente da atual, trazida pela industrialização.
Então, gostaria de compartilhar aqui o que os yamas e nyamas, que são o primeiro passo da vida yogi, dizem e como podem estar relacionados a uma vida vegana. Existem 5 yamas, que são basicamente preceitos para se viver em harmonia com o mundo ao seu redor.
O primeiro, ahmisa, significa a não violência. Um dos motivos da causa do veganismo é a compaixão com os animais, que não sofrem apenas na hora da morte, mas durante toda sua vida, para chegar ao prato de um onívoro.
A partir do momento em que você recebe esse entendimento, e se você é contra esse sofrimento, se ignorá-lo não estará praticando satya, não mentir, que é o segundo yama – comprometer-se com a verdade de que existe um sofrimento pelo qual somos responsáveis e que o mundo precisa da nossa ajuda para reequilibrar o meio ambiente.
Veganos também praticam muito asteya, não roubar, pois eles acreditam que não só a carne do animal, mas também o que ele produz, não nos pertence. Logo, mel, ovo e leite são excluídos também.
Brahmacharya, que significa contenção dos prazeres, nos ajuda a repensar se gostar do sabor desses alimentos é realmente um motivo para não realizar essa mudança. Não quer dizer que não devemos ter prazeres, mas sim que eles não devem estar acima do nosso propósito, e não devemos nos deixar ser controlados por eles.
E o último yama, aparigraha, o desapego, te liberta para um novo estilo de vida, deixar crenças limitantes para trás e acreditar que é possível fazer diferente. Partindo para os nyamas, que seriam 5 preceitos para viver em harmonia com nós mesmos, temos:
Saucha, o primeiro, refere-se à limpeza, pureza. Acredita-se que tudo possui uma carga energética, e se sabendo que aquele alimento gerou muito sofrimento, ao ingeri-lo, essa carga vem junto. Existem também muitos estudos que mostram que o nosso sistema digestivo é comprido demais para receber a carne, então a decomposição deste animal morto acontece dentro de você.
Chegamos ao segundo nyama, santosha, contentamento nas ações. Sempre digo em minhas aulas que as pessoas têm uma visão errada sobre se “contentar”, como se fôssemos ensinados a sempre querer algo a mais do que o que temos, e se contentar “é para os fracos”, mas não, santosha é apreciarmos o que a vida nos traz!
Então, depois de tudo que escrevi aqui, se para você faz sentido o veganismo, é preciso aplicar este nyama para saber que nem sempre vai ter algo para comer onde você vai, e nem sempre os outros vão te entender. E está tudo bem, talvez um dia você também não entendeu, talvez um dia o outro entenda. Talvez não…
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Então, praticamos tapas, que é basicamente disciplina, pois às vezes é difícil, principalmente no começo. Pode ser que você erre ou se sabote, mas a disciplina vai fazer isso tornar-se fácil e natural.
Na vida do yogi, há Svadhyaya, o autoestudo, quarto nyama. Ao aplicá-lo, você começa a perceber os efeitos de uma alimentação mais limpa. Como você se sente e como o seu corpo responde. Então, você não come só pelo prazer, mas para se nutrir, nutrir o seu templo.
Falando em templo, chegamos ao último nyama, ishvarapranidhana, a entrega a Deus. O yogi acredita que a nossa alma é um pedaço de Deus, logo, ao nutrir o nosso corpo, de certa forma estamos fazendo uma oferenda a ele, e que lindo se nesta oferenda não houver dor nem sofrimento.
Além disto, quando alguém compreende a causa vegana e retira a ignorância desse processo, recebe uma certa necessidade de querer “mudar o mundo”. Eu, pessoalmente, vejo neste nyama um certo conforto, pois quando falamos sobre mudança de hábito, a motivação é muito pessoal. O que vale é fazer a minha parte.
Hari Om…